terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Vida, morte, Vida. Paraíso.

Viver e não acreditar numa vida depois desta parece-me tão rídiculo que me custa a sequer ponderar essa possibilidade. Afinal, vivemos o quê? 70? 80? 90 anos? E é só? Por aqui nascemos, crescemos, sentimos, envelhecemos e mais nada? Poupem-me. Para quê tanta coisa então? Não faz sentido. Tem que haver algo mais, há algo mais. Caso contrário a vida seria tão curta e deplorável que nem valeria a pena vivê-la. Logo a morte não é nada a recear; tenho um pouco de medo de envelhecer (chama-se gerascofobia), sim, mas morrer não assusta. Nem me assusta perder alguém querido; não me interpretem mal, é óbvio que custa, mas com a concepção que tenho de morte, o sofrimento que disso advém torna-se reduzido. Por outro lado, tenho um peculiar desejo em relação à minha própria morte, que já tive a oportunidade de aqui referir na pele de uma personagem de um conto; onde quer que vá parar, que sinceramente nem imagino o que possa ser, quero poder escolher uma idade, uma fase da minha vida, e gozá-la para a eternidade. Quero que qualquer noção de tempo e espaço seja abolida e satisfazer a ânsia que tenho de experimentar de tudo, ser tudo. Um género de Fernando Pessoa, mas menos frenético, consumidor, desesperante, ou seja, mais a cair para Caeiro. Isso, ter a necessidade de um e a calma do outro. Se tudo isto for possível, vou ter o meu Paraíso. E talvez Paraíso seja isto mesmo, encontrar depois da vida tudo aquilo que nesta não alcançamos e desejamos. E talvez Inferno seja precisamente o oposto, viver um pedaço de anos nada ambicionando e por isso nada encontrando depois, ser tão pequeno dentro de si mesmo numa autêntica ofensa figurada à imensidão da alma humana.

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