domingo, 27 de fevereiro de 2011

Lenço

Eu chorava e chovia
Pois o Céu chorava desconsolado
Ou assim o via eu;
Porque tudo o que era núcleo meu
Era ver lágrima em todo o lado.

Já não sei hoje o natal desse sal
Do medo, da solidão e desespero
De onde veio o não se saber por onde ir
Porque do meio do escuro fizeste luzir
Um pedaço de sorriso, um pedaço mero.

Um colo quente como se foras mãe
Um colo que já não dispenso.
Pois o Sol brilha e o Céu sorri
Desde que no meio do choro que verti
Com a tua boca, foste um lenço.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Greve

Tudo é exagero no seu ser
Tudo o que é e que se inventa
Pequena ferida e vou morrer
Sorriso e logo a vida é lenta.

Ah, arrebatadora existência
Mil maratonas de sentir
Nada e tudo me são essência
Triste consigo chorar a rir.

Mas cansa esta guisa de caminhar
Que já fez de muitos passos breve
E por muito que me custe pensar
Hoje, da emoção eu faço greve.

(Mas só um bocadinho)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Embriaguez

Saía o Sol detrás das colinas
E cantavam os pássaros que acordavam
Ah, os cheiros da manhã chegavam
Pão quente, orvalho, vida.
E eram portas que se abriam
Enquanto se abriam olhos meus
Olhos janelas para os céus
Azuis, paisagens de pensar e de sentir.
E tudo isto eu absorvia ávido
Fome tinha de um novo dia
Uma embriaguez que tão bem sabia
Voo plano sem asas ter.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Chove

Chove.
Cada gota é um beijo na minha pele.
A alma aquece com o corpo frio,
E o meu passo é lento no meio
De tantos rápidos.

Chove.
A chuva é minha amiga
Conta-me segredos do Sol
Que nem ele sabe
E do céu traz-me versos
Poesias escondidas de gostos
Comuns.

Ah, os arrepios, a sensação de liberdade.
Se me abrigasse era como os outros
E se cada gota é diferente
Porque haveríamos de ser nós iguais?
Se a chuva é choro, é contente
Comoção de Deus enviada
Chove, e eu não me abrigo
Ele há-de me levar na mão
Consigo.

Para a Catarina Pereira, 
que está engripada por ter dado a mão a Deus.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Querido inimigo, a ti também te amo!

Era julgado na barra do tribunal um homem velho, gasto pelo trabalho de uma vida que nunca lhe sorrira, mas dos lábios poucas vezes lhe saiu o sorriso. Era inocente, e o caso para aqui pouco interessa, tenho que me debruçar sobre aquilo que a justiça ignorou. Dizem que é cega, talvez se tivesse olhos pudesse ver que aquele homem não tinha maldade na sua aura, mas enfim, não se julgam "auras".
O homem que o acusava era muito poderoso, e tinha uma vida rica pela frente à custa de muitas pobres que espezinhara e deixara para trás. À sua maneira, exercera a sua influência sobre o juiz que lá deixara de ser invisual para conseguir ver o caminho para o seu próprio bolso. Condenado, grande surpresa. O velho estava desolado, apesar de já esperar aquele desfecho. Não chorava, na verdade não expressava nenhuma emoção. Ao longo da sua vida aprendera a resignar-se perante certas situações, entregando o seu futuro nas mãos de Deus. Era crente, mas não daqueles que cobram de Deus aquilo que lhes corre mal e o ignora quando a vida é só alegrias. Para aquele homem tudo tinha razão de ser, e todas as situações que parecessem totalmente orfãs de sentido (ou de justiça,  como era o caso) eram por ele aceites.
Era uma questão de tempo. Não, ele não acreditava que o karma acabaria por cobrar contas àqueles que haviam procedido mal, isso implicaria guardar rancor e desejar mal, não; olhava mais além. Tudo acabaria por passar. A vida é passageira e muito curta, e mais à frente tem que haver felicidade guardada, um tesouro no céu. Secretamente, tinha até as suas próprias projecções do Paraíso, e elas se entregava quando tudo parecia ruir. Sonhava em chegar ao céu e poder voltar a ser criança, inconsciente e sem problemas e feliz e ter perfeita consciência disso. Uma inconsciência consciente, era o sonho dele.
Enquanto tudo isto lhe aflorava a mente, sorriu, no meio do tribunal. Ninguém reparou. Encaminhou-se para a saída e cá fora cruzou-se com o acusador. Por um momento, os olhares cruzaram-se; o jovem sentiu repulsa, talvez mais por si mesmo que pelo velho. E afastou-se. O homem, enquanto o via caminhar, sentia pena dele, uma sincera piedade que nada tinha de cínico. Nunca sentiria a pura felicidade, uma felicidade intemporal. E dificilmente amaria. Em casa, o velho tinha à espera a sua esposa. Pensou nos longos anos que passara com ela e no quanto a amava. E aos filhos, e anos netos. Valiam todas as provações por que passara, e viesse mais uma vida inteira de dificuldades se a recompensa fosse aquele. No passado, pensou, e no futuro, existem refúgios para um hoje desesperante.
Enquanto estes pensamentos lhe ocupavam a mente, reparou numa carteira no chão; caíra do bolso do sujeito que o acusara. Correu para a apanhar. Não a abriu, mas adivinhou o dinheiro que lá deveria conter, provavelmente suficiente para lhe suportar um mês de mercearia, talvez dois agora que as dificuldades iriam aumentar de sobremaneira graças ao que teria que lhe pagar, ao jovem e ao tribunal. Mas isso nem chegou a ser hipótese. Acelerou o passo e apanhou o homem à entrada para o elevador. Ele ainda se assustou, pensou que o velho o fosse tentar agredir, mas ao ver a sua carteira acalmou-se. Recebeu-a das mãos do velho, que lhe sorriu e aconselhou cuidado, como se estivera a avisar o neto pequeno dos perigos das correrias. Não o disse, mas era capaz do o amar, àquele homem que tanto mal lhe fizera.

Porque amar quem nos ama pode ter muito que se lhe diga mas é fácil porque faz sentido, agora amar o inimigo é ser-se algo mais, e acreditar em algo mais. E desejar algo mais.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Injustiça

Guimarães a pano de fundo, castelo no horizonte e um aroma no ar a um D. Afonso Henriques que já foi guerreiro mas anda agora adormecido, ou talvez sejamos nós que ainda não tenhamos percebido que quem está acordado é que deve sonhar. A tarde era de um Sol imenso, estranha essa condição humana de procurar a sombra quando aquece e desejar o calor em dias de chuva.
Na esplanada procurava-se então essa frescura que a Natureza não dava, entre chapéus-de-sol e bebidas e gelados. Numa das mesas estavam dois senhores muito bem apresentados, de fato. A indumentária pode parecer inapropriada para o dia que se descreve e nem eu de facto entendo muito bem, mas eu não trabalho numa empresa nem nada disso, mas os dois homens trabalhavam e mandava a sua profissão que se vestissem como certos seres do gelo mesmo em dias de calor intenso. Falavam um com o outro sobre números e contas e dinheiro, dinheiro que iam gastando num ou outro refrigerante para arrefecer por dentro, mas claro, o problema era o terno de fora e de nada servia.
Na praça onde se situava a esplanada deambulava um poeta, um pobre miserável que nem tinha dinheiro para mandar cantar um cego, e então cantava ele. Mas cantava à maneira de Camões, escrevendo.Enquanto andava sem rumo propunha uma oferta a quem achasse digno de tal negócio, que era a seguinte: o segundo outorgante (ele não conhecia esta palavra, mas se lha dessem trabalha-la-ia com o mesmo amor que dedicava às outras) escolhia uma expressão qualquer, ou uma palavra, e a partir dela o poeta criava o que de melhor os poetas criam, poesia. Ou terá sido a poesia a criar os poetas? Adiante. Conforme a pessoa abordada gostasse ou não do poema nomearia um preço e compraria o texto por essa quantia. Claro que a poesia sempre é subvalorizada e o dinheiro que o homem lucrava mal dava para comprar mais papéis e lápis, quanto mais para comer.
Ao longe o nosso amigo poeta viu os dois homens de fato na esplanada. Jeito como tinha para o negócio, percebeu que dali podia arrancar algum dinheiro, ainda que pouco amor por poesia. Tentaria a sua sorte. Aproximou-se e no jeito enigmático que só um poeta de rua pode e sabe ter, expôs as condições. Um dos senhores decidiu que o melhor seria ignorá-lo, o pobre coitado deve querer dinheiro para drogas ou bebida, ainda que não tivesse aspecto disso, como se interessasse. O outro, porém, pôs-se a pensar, com pena do desgraçado. Havia pessoas que realmente pouco tinham, a vida não lhes havia sorrido. Ele por exemplo tinha tudo, aquele homem não tinha nada. Seria justo? Injustiça, disse, escreva sobre a injustiça. Afinal, qual seria a opinião de um injustiçado sobre a injustiça? O seu amigo ficou surpreendido, mas o poeta sorriu e pediu um lugar na mesa onde estavam, que lhe foi concedido. E entregou-se ao papel, com a cara extremamente próxima, de testa franzida e língua massacrada pelos dentes. Por uns minutos escrevinhou e riscou até que, com um sorriso, pousou o lápis. Pegou no trabalho final, pigarreou e, levantado, declamou o próprio poema:

Deus,
O Sol nasce e a todos aquece
Pois para todos é o seu nascimento.
Mas, piedade, olhe-nos um momento
Será que esta gente merece
Tamanha tortura, tormento?

A que coisas a vida obriga
Pele coberta, e a ferver
Preferia mil vezes ter que morrer
A esta punição que tão grave castiga
Ter a perfeição e por ela sofrer.

Injustiça, quem o nega?
O Sol não queima, só conquista
E que brilhe sem ofuscar a vista!
E se é verdade que a justiça é cega
Então que seja a injustiça vista.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Chá

Versos pétalas naturais
Aromas, como mais não há
Não quero tesouros nem nada de mais
Eu só quero de poesia um chá.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Fim

O calor fazia ondas no horizonte
Longe, já parecera tão perto.
O carro seguia, em velocidade
Quer lá saber do que é verdade
Segue em frente, isso é certo.

Vens ao meu lado, ainda.
Apanhei-te lá atrás, num tempo perdido
Foi, espera, quando foi?
A memória é uma coisa que dói
Ah, se ao menos eu tivesse esquecido...

Gostei de ter aqui, no lugar do passageiro
Quem diria que até aqui, duplo significado?
Foste companhia, quero-te comigo
Mas o tempo não foi amigo
E à frente, ali, é amor acabado.

Não digas que não te amo, e não chores.
De choro tenho eu o peito a derivar
Dá-me a mão, quero o teu abraço!
Ah, Pai, o que é que eu faço?
Quero que fiques, mas não quero ficar.

Parei o carro, mas a estrada não acaba
A areia, a areia de correr não pára
Vai, é melhor assim, eu fico aqui
A ferida queima-me a mim e a ti
Mas o tempo, que nos separou, também sara.

Canção de embalar

Papá, tenho medo, não vás embora!, disse eu. O quarto estava muito escuro, e a minha pequenina cama podia esconder por debaixo dela imensos monstros e coisas más. Marta, não tens que te assustar com nada... está tudo bem... vês?, respondeu o pai, enquanto espreitava debaixo da cama e abria o guarda-vestidos. Mas não vás embora papá, por favor, espera que eu adormeça...  Mas nunca te custou a adormecer querida, que se passa?, perguntou-me. Não sei, estou assustada, e só de imaginar ficar aqui sozinha no escuro tremo toda! Desculpa... Não tens que pedir desculpa filhota, o pai fica aqui então. Só espero que não se tenha passado nada que não me estejas a contar, isso sim, assusta-me e preocupa-me.

Tinha de facto acontecido. Na escola, na turma da pequena Marta, um pai de um dos colegas falecera, o que levara a professora a explicar o que era a morte, algo que muitas daquelas crianças não percebia muito bem ainda. Tudo isso fizera Marta pensar na possibilidade do seu pai ou da sua mãe morrerem, o que a afligia.

Não, papá, está tudo bem. Só quero que fiques, sim? Tudo bem querida, queres que te conte uma história?,
perguntou-me o pai. Não, uma história não. Cantas-me uma canção?

O pai sorriu e acenou, sem falar. Baixinho, quase num sussurro, começou a entoar uma canção. A pequena Marta não a conhecia, na verdade nem entendia muito bem o que dizia, não parecia ser português. No entanto, a voz grave mas suave do pai soava-lhe imensamente bem, e logo se sentiu mais segura, mais quente, protegida. Parecia que o pai lhe tinha pegado ao colo, envolvendo-a num abraço quente. A menina pouco percebia de música, e o homem, se tinha algum dom artístico, não era o da música, pelo menos não o do canto. Pai e filha, nenhum dos dois percebia de notas musicais nem de tons, mas a música não é como o dinheiro, só para uns. Toca a todos. A pequena Marta sentiu os olhos a pesarem-lhe e fechou-os, devagar. Cada verso, cada palavra que saía cantada dos lábios do pai era um beijo que lhe era dado na alma, e logo os medos foram substituídos por sonhos, e estava tudo bem.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Alfinete

Quantas vezes nos pediram, na escola que escrevêssemos ou falássemos daquilo que gostaríamos de ser quando fôssemos grandes? E quantas vezes respondemos astronautas, polícias, veterinários, jogadores de futebol? Ou então, claro, falávamos da profissão dos nossos pais e do quanto gostaríamos de ser como eles, crescidos e importantes, mesmo que, lá no fundo, isso nos parecesse uma grande seca. Mas um dia houve um menino que escreveu algo de diferente numa dessas redacções de escola. A professora, que era uma velhota daquelas que muitas vezes se esquecem do que é ser-se criança, considerou do alto das primaveras que já contava e já nem sabia contar que o menino não entendera o pedido, e mais, arquitectou uma sentença toda catita, o pobre rapaz tinha "dificuldades de aprendizagem". Todos concordaram com a opinião da experiente docente. Fica aqui o pequeno texto do Afonso, um menino do 4º ano, e cada um tire a sua própria conclusão!

Compuzição

Cuando eu for grade

Cuando eu for grade quero ser um alfinete.  
a maim é custureira e tem muintos, e eu goxto muinto deles. Axo que todas as pexoas deviam ser alfinetes.
Os alfinetes pódem ser espetados todos que tem lá uma coisinha que naum deixa espetar mais, e axim nunca perdemos o alfinete. Naum podemos é espetar so poco porque senão o alfinete cai e axim perdemos. Se perdermos um alfinite poro espetarmos demaix ao menus sabemos onde ele está se espetarmos poco pudemos perdelo pra sempre.
Eu quero ser um alfinete porque axim podia espetarme na carulina da sala 3. eu temtei espetarme nela mas eu naum sou um alfinete e naum tenho aquela coisinha e entaum espetei muinto e perdime ao menos foi dentro dela e ainda sei onde estou.

Migalhas

Eu tinha um bolo que era só meu
Um bolo enorme, de chocolate.
Um bolo doce, que me aqueceu
E só de pensar, o coração bate.

Quando desejava dele comia
Se não quisesse, logo o arrumava
E foi-se indo fatia atrás de fatia
Conforme a vontade mandava.

E tinha morangos esse bolo
E natas e nozes e muito recheio
Criança, queres correr ou queres o colo?
Deus, porque não há um termo meio?

O bolo claro, teve o seu fim
Como quando caíram de Tróia as muralhas
E eu, que o tive todo mas nem todo veio a mim
Choro agora sobre as migalhas.

Abecedário

Queria dizer-te o quanto és
Quanto, quando, como, onde,
Mas o verso outrora livre se esconde
Pequenino, criancinha aos teus pés.

Algures perdidas num mar de nada
Bóiam, sem dono, as letras meu alimento
Correm a mim e são meu sustendo
Desde que seja a fome passada.

A,B,C,D, percorro e desnudo o dicionário
Mas eu não sei ler, ou elas não me lêem a mim
Nunca soube números e biologias e coisas assim
E hoje, hoje já nem sei o abecedário.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Repetição

Carreguei no play, depois de ter colocado em mim a nossa pequena cassete. Claro que tive que fazer rewind, puxar a fita atrás, porque hoje tu és saudade e sempre o és desde que te tornaste ausência. Chegou ao início e sim, agora o play. Lá estavas, perdão, cá estavas tu, logo dentro de mim pouco depois de teres estado à frente. Lembro-me da primeira vez que te vi como se de facto as imagens passassem na minha televisão, passam na minha alma e vejo-as com os olhos que ela tem. No primeiro momento em que a minha vista pousou na tua houve uma pausa, uma pequena suspensão temporal, como se naquela altura um pintor tivesse pedido que parássemos um pouco para que ele recheasse uma tela com as emoções estranhas que de nós brotaram. Éramos jovens, crianças, e para as crianças amar é fácil, basta viver... Aqui torna-se ainda mais curiosa esta metáfora de que me lembrei para nos descrever. Enquanto não nascia um novo dia que me trouxesse de prenda a tua presença, a minha vida andava em slow motion, câmara lenta. Juro-te que até a água que ia buscar à torneira para me acalmar parecia demorar-se nos canos, malandra, perversa. O tempo brincava comigo e com o que sentia, e pior o fazia quando finalmente estávamos juntos. Acelerava, ele, o tempo. Mal te via já tinha que te virar as costas, e de novo o mesmo suplício do arrastar das horas. Num desses fogachos de tua presença no meu dia convidei-te para sair, e como sempre achei que cinemas eram pouco, levei-te a um jardim, que ainda é menos para quem achar que sim. Não interessa o que falámos porque não disse nada de jeito, o coração atropelava-me as palavras, interessa o beijo. Nova pausa. Essa eterna, pois tenho para mim que ainda hoje, agora mesmo, lá estamos os dois, perdidos um no outro, donos agora desse tempo que cruel brincara com o nosso amor de meninos. Perco mais tempo aqui que no resto do filme, é sempre assim nas melhores partes... Fast Forward agora, andar para a frente (tem mesmo que ser?...). Quanto tempo? Não sei quanto foi, nem quando. Parece que foi ontem, e mesmo que tenha sido parece ter sido há milhares de anos, muitos antes de ter inventado na minha vida isto dos filmes e dos botões. Agora, a dura realidade cai sobre mim e, enfim, apago a tela; posso voltar a atrás lembrando, mas não posso tornar a provar amanhã o mel que deitei fora ontem. A vida tem tantos botões, Deus, porque não criaste o da repetição?

Sim, sim. Não, não.

A Lei aconselha-nos a que não roubemos nem matemos, entre outros atentados ao próximo. Pronto, aconselha-nos é mesmo uma forma de dizer; obriga-nos a isso. A alternativa inclui grades e grilhões e vá, não é bonita. Sei que pareço frio por dar a entender que é esta Lei a única coisa que me impede de espetar uma facada na vizinha do lado só porque não gosto das calças dela, mas agora que já me puseram em causa vocês, eu pergunto: não matar e não roubar, mesmo que por uma cortês atenção à dignidade humana (e à nossa própria, porque remorsos também são, vá, incómodos) faz só por si uma pessoa boa, quente em oposição à tal frieza? Pois bem, se eu amasse a tal vizinha do lado, para além de deixar a faca guardada na gaveta e o sangue nas veias dela provavelmente ainda me relacionaria com ela, nem que fosse o típico pedir "um raminho de salsa", mesmo à antiga. Porque respeitar a Lei de hoje faz com que não sejamos maus, respeitar uma outra Lei (que não se estuda em Direito, nem tem artigos, só capítulos) faz de nós pessoas boas. E se me pedem que ame (pedem, não obrigam), então ou digo sim, sim, ou não, não. Sem zonas cinzentas, sem explicações, sem promessas para um amanhã eterno. Porque um sim muito explicado ou prometido é, na verdade, um não. Ah, e eu digo sim, sim.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Não sei

Não sei se é gelo ou fogo ou ar
A semente desta terra que me alumia
Nem sei se é chão ou é voar
Se me dá vida ou vai matar
Se é mais ilusão ou mais magia.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Quiasmo do dia e da noite.

Vai o dia nascendo                                                  Cai a noite, ao seu jeito rainha
Curto, se fora a tarde a sua vida                              Dos calados, mudos falantes
Pois mal rompe, vê rompida                                    Que em silêncios calados gritantes
A existência de Sol aquecendo.                               É de todos, mas nem tua, nem minha.

                                             A madrugada é o refúgio amigo
                                             Mais o entardecer, de igual destino
                                             Num cai a Lua, noutro chega o Sol
                                             E tudo isto é um caracol
                                             Uma espiral, um desatino.
                                              E os amantes não se encontram
                                             Mal sabem que mal se tocam
                                              Pois se há verdades que sufocam
                                             Ao menos as ilusões, como são, alentam.

Cai a noite, ao seu jeito rainha,                                      Vai o dia nascendo
Dos calados, mudos falantes                                          Curto, se fora a tarde a sua vida
Que em silêncios calados gritantes                                  Pois mal rompe, vê rompida
É de todos, mas nem tua, nem minha.                             A existência de Sol aquecendo

...

E eis que das cinzas da apatia e dos versos dispersos, se levantou o pássaro vermelho escarlate, de asas apontadas ao Sol seu pai, imponente e fogosa, a Fénix renascida.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Parabéns didi!

Venho por este meio informar que hoje, por volta das três e doze da tarde, nasceu o meu irmão do facebook, Diogo Mendes Navalho da Silva. Este homem, sim homem, com 19 anos teima em achar que é uma criança. Continuo e espero que os leitores, leitoras e futuros usurpadores deste blog tenham em conta esta triste situação e lhe tentem continuar a meter juízo.

Extremamente agradecido, o eternamente vosso: Daniel Carvalho