quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ponto de ebulição

Ou a memória me falha (também me acontece), ou este é o primeiro texto que vai partir do título, e não o contrário; normalmente escrevo, e depois, consoante o que sair, lá arranjo um nome. Hoje não. Sei que há sempre aquela altura em que se rebenta, um extremo, o ponto de ebulição. Raramente me acontece, mas o meu estado de espírito até há uns momentos era precisamente o ultrapassar desse limite, que só posso melhor descrever com a expressão que mais me trespassou a mente: aaarghhh que coisa! poças! As razões são várias, rídiculas e mundanas demais para este sítio, que quero que seja de retiro, de poesia, muito afastado deste corpo mas muito próximo desta alma. O conflito entre esse dois polos hoje foi quase titânico, e feito a partes; a primeira, durante o dia, foi claramente dominada pelo físico. A alma bem queria explodir mas estava presa por estes tecidos e músculos e nervos e carne. Ela própria não forçou muito, afinal não é de grandes expressões. Só se abre aqui, à noite, na cama onde o corpo descança. E foi aqui que ela venceu, daí o estado de espírito ter só sido meio trovoado até à momentos. Aqui a alma despreza o corpo quase totalmente, dando um pequeno desconto aos dedos, por razões óbvias. E aos olhos, por razões igualmente claras. Pronto, e aos ouvidos, que vão gentilmente permitindo a entrada na alma de música que a alimenta. De resto, é implacável. A minha sorte é que é a esta alma que dou mais importância, a este coração, e, cereja no topo, ganha sempre no fim do dia, no fim na batalha. E quem ri por último...

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