sexta-feira, 13 de abril de 2012

Porque hoje foi dia

Levantei voo e o céu abriu-se, tal qual os livros que eu lia quando não tinha idade para ser preguiçoso dos olhos. Uma música de amor silenciosa começou a tocar no ar, vinda de dentro. Partes de mim que não as pernas iniciaram a maratona a passo de corrida de 100 metros. Barreiras, porque a cada batida logo outra era falhada, porque as coisas certinhas foram feitas pelo Homem mas não são do Homem, pelo menos não de um que tenha pegado numa rosa pouco se importando com os espinhos, afinal, o sangue corre e aquece. Os olhos brilhavam para dentro, olhavam a alma, as almas, bem, a alma, que duas fazem uma. Uma só. O tempo, esse que nunca pára, foi obrigado a baixar os braços e a render-se a uma evidência: o segundos valem para quem os conta, e quando se voa, só se deseja que seja para sempre, e o segredo para se viver para sempre é contar a vida por respirações, peles de galinha e vontades alegres de chorar. De sair, de ter frio, de correr, de apanhar chuva, até aquele ponto de ter um nó de felicidade na garganta que logo se transforma em sorriso de estúpido, de parvo, de idiota. Se existem mais pessoas, são formigas num sopé de montanha que começa a subir quando se começa a descer à idade da inocência, da ingenuidade, da pequenez tão grande. Confuso? É tudo uma coisa apenas, tudo isto é um beijo.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Ementa

A vida pode ser tudo
E com tudo pode ser comparada
Partida
Corrida
Chegada
Falador calado
Ou poeta mudo.

A vida pode ser uma moldura
Virada para trás, lembrante
Um pensamento morto e errante
Que só lembra,
Fecha
E não vive.

A vida pode ser uma chávena
Cheia de um néctar delicioso
E se eu o beber calmo, preguiçoso
Saboreio cada gota como última.
Ou bebê-lo de um trago
E ter para sempre o sabor amargo
No tempo em que depois não bebo.

A vida pode ser uma flor
Ter cor
E cheiro e companhia!
Enfeitar sem receber
Ser arrancada para sorriso ver
Desinteressada
Do Sol
Para o Sol.

A vida pode ser um jogo
Mais de bola ou mais de gravata
De mão dada ou de mata-mata
De uma doce vitória
Ou de um fim sem glória
Para quem ganha sem ganhar.

A vida pode ser tabaco
E ser fumada sem em nada pensar
Só fazer, não preparar
O hoje é hoje, pois
O amanhã
Esse
Vem depois.
(E que não venha, a saudade é só para o ontem)

A  vida pode ser um copo
Vazio de tudo
Ou cheio de nada
O copo é nosso
E a torneira
Nunca é fechada.

A vida pode ser um relógio
Passar devagarinho
Malandra se a passo sozinho
Fugaz se acompanhado.
E o relógio pode parar
Seja a hora da morte depois
Da hora do despertar.

A vida pode ser um lápis
E desenhar vidas,
Sem tinta.
Um lápis com um coração que sinta
E bombeie
Sincero
E minta.

A vida pode ser uma cortina
E a paisagem, a mais bela.
Cortina fechada, interior quente
Mas a alma o que não vê sente
E sonha com o que há para além dela.

A vida pode ser uma porta
Aberta
Torta ou certa.
Espaço há, haja vontade
De sair, saltar a grade!
Ficar
Ficar é que não.

A vida pode ser tudo.
O que estás aí a fazer?