quinta-feira, 30 de setembro de 2010

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Futilidade (?)

A nossa casa é já ali, mas não temos coragem suficiente para atravessar a estrada.

Hibernu

Mais facilmente apreciamos aquilo que não temos e isso é visível em muitas situações. No Verão, quando está calor, não precisamos de nos preocupar com o incómodo frio, damos a temperatura amena como garantida e ah!, vamos à praia. Mas a mim, o que dá gozo, é o Inverno. Não, não gosto de frio! E detesto ter os pés molhados e usar quilos de roupa. Mas nada supera a satisfação do adormecer tapadinho na cama com o som da chuva a fustigar a janela, ou estar sentado no sofá de pantufas bem felpudas a ler um bom livro enquanto a lareira crepita, dançarina. Mas mesmo lá fora reinam momentos de pura magia. Se um passeio ao Sol é agradável, andar à chuva sem destino é tão mais poético. Venham narizes a pingar, venham tosses, venha o que vier. Andar à chuva é dar a nós mesmos uma liberdade total, deixar as gotas inundarem-nos a cara e a roupa colar-se à nossa pele. E até podemos chorar de alegria, que ninguém nota.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Artes

Leonor, o que queres ser quando fores grande?

Ah, eu não sei como se chama, mas eu quero olhar para um prédio de tijolos cinzentos e telhas caídas e transformá-lo numa casa muito bonita e acolhedora! Quero pegar em pedras e areia e criar coisas bonitas, quero fazer do feio e inútil algo bonito e que sirva para alguma coisa!

Boa! Então e tu, Dinis?

Eu? Eu também.

Também queres ser o mesmo que a Leonor?

Sim, quero ser poeta.

E nada mais importa

Dois pares de olhos
Um olhar
Menos de um momento
Nenhuma respiração
Um aperto no coração
Um brotar de sentimento
Um destino a trabalhar.

Doze pares de horas
(Doze pares de meses?)
Zero vontade de comida
Menos ainda de dormida
Mil orações, mil preces.

Uma paisagem de magia
Cem frases e versos
Um imenso calar
Dez dedos a entrelaçar
Outros dez que ficam dispersos.

Um beijo.

domingo, 26 de setembro de 2010

Rumo nenhum

Só sinto e ando sempre perdido
Não penso, dizem que peco
Mas se rumo mantiver esquecido
Sempre perdido, nunca me perco.

sábado, 25 de setembro de 2010

Desencontro

O menino só queria descobrir e quando cresceu essa fome não mudou. O menino, o rapaz, o homem, sempre olhou fascinado para as lutas dos vikings, as conquistas dos reis, as descobertas portuguesas. Sempre o fsacionou o desconhecido por desvendar, o mistério, a dificuldade dos enigmas. Ele só amava verdadeiramente o que nunca tinha visto. Mesmo na idade dos namoros, parecia menos gostar depois de saber o nome da menina, de lhe dar o primeiro beijo, enfim, depois da novidade. Pobre menino, nasceu numa era em que tudo se conhece, e o que não conhece, outros o encontram em fracções de segundo. Sentamo-nos em frente a uma televisão e quilos de informação entra-nos pelos olhos, processo a que já chamaram lavagem cerebral, agora chamam entretenimento. Tivesse nascido séculos antes e teria sido Imperador, Rei, Capitão da mais larga e famosa e poetizada frota. Um triste desperdício, este desencontro causado pelo Tempo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Pena

Saudades das cartas que nunca escrevi
Falta dos pombos que não fiz voar
Promessas de amor que não vou enviar
Porque há pouco, pouquinho tempo nasci.

O tempo era amigo da ansiedade
Que só aumentava o desejo
Hoje, se quero dar um beijo
Mando uma mensagem, virtual realidade.

Ah, o papel só por si era amor
A tinta, sozinha, poesia
Só queres carne sem bateria
E eu não te dou o carregador.

Trovoada

O mar estava calmo, sereno
E embalava como a mãe ao filho
Ao longe, mal se via terreno
Só mesmo o do farol brilho.

E eu vidrado olhava
O azul que não me enchia
Porque, enquanto balouçava
Era só frenesim que queria.

E dentro de mim nasce um furor
Uma raiva boa incontrolada
É poesia, paixão, amor
No mar sereno, trovoada.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Desconhecido

Descobrir-se-ão mares e terras e planetas e galáxias, o Homem cerrará fileiras Universo fora mas, como nunca olha para trás, nunca verá a face oculta da Lua. E será por ela que sempre estará apaixonado, porque é sobre o que não se entende que se faz poesia.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Só sentido

Dizem eles que o amor, como tudo, é algo exacto, racional, explicável. Dizem que resulta de uma série de não-sei-quês quimícos que acontecem cá dentro, como a fome, ou uma doença, ou o que seja. Tristes. Dizem até que há como simular a sensação de estar apaixonado, li eu que comendo chocolate, a tablete, para além de amêndoas ou arroz, manda cá para dentro uma substância qualquer que provoca isso. Mas o que é isto? Claro que o chocolate me pode fazer sentir apaixonado, mas também o faz sentir o cheiro da terra molhada, comer uma bela de uma tosta mista, ver um sorriso de uma criança, olhar para uma paisagem e não lhe perceber nada de cinzento, mesmo que o tenha. Não há substâncias nisto, há sentimentos, e esses não se explicam. Não tentem explicar o amor, até porque ao fazê-lo estão a gastar páginas que vieram de árvores que por terem sido cortadas já não podem fazer sombra a um poeta que queria, ele sim, escrever amor. O amor tem a sua química sim, mas não é mais que isto: olhar para uma pessoa que não conhecemos e adivinharmos anos de vida ao seu lado, beijar alguém e trocar bem mais do que um beijo, ler num momento versos que preencheriam uma vida. Química é perdermos a fome porque simplesmente não faz sentido comer, perder o sono apesar do desejo imenso de sonhar com a pessoa que amamos, é sentir forças para correr maratonas sem nunca se cansar, é pouco nos interessarmos se faz chuva ou se faz Sol. Posso continuar a dar exemplos, mas tal como acontece com a ciência, nunca conseguirei traduzir em palavras; porque pode acabar o mundo, pode deixar de haver tempo e espaço, pode o Sol brilhar de noite e a Lua encantar o dia, que nunca, nunca o amor será explicado.

sábado, 18 de setembro de 2010

Barco negro

De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.[Bis]

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.[Bis]

No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

Fado de Amália Rodrigues


(E já lá vão 200 posts!)

Dar um pouco mais do que tens

Sou rei senhor majestoso
Mal penso já estou a mandar
Não preciso de usar arte, dom precioso
Que até tenho, posso jurar.

Eu sou pobre, nem de mim senhor
Nem bolso posso dizer que tenho
Mas sou pleno, mais que de mim maior
Sou poeta, não conheço tamanho.

Da Arte somos dois parte
E a Arte não pede aquilo que não manténs
Pede que nada do que é teu te aparte
É só dar um pouco mais do que tens.

A flor

Ontem ele passaste pelo jardim e adoraste a flor que lá viste. Conheceste-a, soubeste dela mais do que cores e texturas e cheiros e formas. Mas foste embora. E hoje, hoje não passaste pelo jardim. A flor, hoje, sei-o eu, mudou. Cresceu, ficou mais bela, a determinada altura não suportou o peso da própria majestosidade e envelheceu, murchou. Amanhã talvez queiras saber da flor, talvez te lembres dela e a saudade fale mais alto que outras coisas que falam demais, sem dizer muito. Talvez a queiras ver de novo, agarrado à imagem que de ontem guardaste; mas a flor não vai lá estar, pode já nem haver jardim, sabes? Hoje era a hora, amanhã, amanhã pode ser sempre tarde demais.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Nos braços

Um abraço, um abraço de ternura, forte, seguro, é aquilo que em adultos mais temos de parecido com o colo de Mãe. E não há oásis, não há ilha, não há muro nem escudo nem fogo que nos proteja, alente, aqueça e acolha tanto como um abraço faz.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Beijo

Terminam segundos que foram minutos
Cessam minutos que pareceram horas
Tocam-se os lábios, doces frutos
Como que morangos, uvas, amoras.

Pára o tempo, acaba o espaço
Tudo é tudo e não é nada
Céu e mar formam um laço
E... não será um canto de fada?

Pode terminar mas não tem fim
Um momento que é eternizado
O meu coração já não me quer a mim
E o teu sorriso está em mim colado.

Venham montanhas, rios, vulcões
Levanto rochas e olhos e almas
Sei lá de ódio e choro e vilões
O vento não corre, tempestades são calmas.

Há grãos de areia que valem vida
Ficam numa dimensão, conto perdido
E se é na boca que faz o beijo a ferida
É o lado esquerdo que sai aquecido.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Encontro

E o tempo foi destruído, conheceu final o que início nunca teve ou se conheceu. E deixaram de haver segundos e horas, e meses e estações. E o Sol e a Lua que, amantes até então um do outro desconhecidos, viram mais um do outro que simples raios de luz. O horizonte rectilíneo deixou de ter forma e o Céu caiu no Mar que teve sempre tudo de si. A ave do ar soube o que era a segurança da terra, enquanto o peixe da água sentiu o calor apaixonante do fogo. Existiu um equilibrio e tudo, tudo encontrou a plenitude da sua essência. Parece e é chamado de fim do mundo, mas não será mais que um recomeço justo, harmonioso. Um encontro entre o Planeta e tudo o que nunca foi nem deveria ter deixado de ser.

domingo, 12 de setembro de 2010

A caminho

A vida não é mais que um meio-caminho entre ponto nenhum e o nosso lar, que está exactamente depois de tudo aquilo que conhecemos, perto do que julgamos conhecer.

sábado, 11 de setembro de 2010

...

Estou muito feliz e queria aqui partilhá-lo, soube hoje que entrei para a Faculdade de Letras, no curso que queria, Estudos Artísticos, variante de Artes e Culturas Comparadas! É um nome esquisito, mas é exactamente o que procuro...

Lux nocti

Ah, pobres. Dizem, como quem diz "eles", que a noite é má conselheira. Pois o dia fala muito, e mexe e gesticula, mas se muito fala, pouco diz. De olhos abertos, vê-se bem menos. A noite, por seu lado, escuta, escura. Poucas vezes fala, só mesmo quando o luar acaricia as ondas do mar ou um perdido grilo dá alma da sua cantoria baixinha, suave, embaladora. A noite não dá maus conselhos, simplesmente não os dá; dá-nos algo bem mais útil, chamemos-lhe. Dá-nos as estrelas agrupadas em constelações, dá-nos sonhos, dá-nos reflexão. A noite deixa que paremos e pensemos e sejamos um pouquinho mais poetas. E se sabes o que é sentir assim, já nem precisas de ser aconselhado. Porque o dia te parece luz e a noite te parece negra, mas no escuro do fecho dos teus olhos conseguues perceber o avesso branco do preto que nunca te tapou a vista, só ta deu.

Lux dies

Discussão acesa tinha lugar
Em assembleia própria para o efeito
Qual seria a cor, perguntavam-se
Que daria cara ao que nasce no peito.

Altivo e senhor de si
Homem sabido só comparado a seu espelho
Defendia, de estudo de livros
Que a cor era, e assim devia ser
A encarnada, vulgo vermelho.

Discordava sua condessa
Requintada como o seu de chá bule
Pois na moda nova reinava agora
Não o vermelho, mas o azul.

Qual azul ou encarnado
Logo se levantou o jovem belo
Há que dar vida e rebeldia
Pois que seja o amarelo!

Não não e não
Disse logo de atenção cheia de sede
Menina princesa do reino de seu nariz
Entendia que o amor havia de ser verde.

E na sala ninguém se entendia
Discutia-se o que ali não existia
E a um quanto, alheia
Estava uma pequena, não sereia
Mas criança que lacinhos vestia.

Ah, que se junte tudo
Pois amor é isso mesmo;
Seja ardente, carinhoso, franco
Junte-se encarnado ou verde ou azul
Tudo abraçado... dá branco.

E, para lá das paredes, o Sol do dia brilhou.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Gerascofobia

A areia cai, sempre, sempre ao mesmo ritmo, sempre, sem parar. O pêndulo mantém a sua dança frenética, alheio ao que é de si consequência, ignorando os efeitos do seu mestre. O ponteiro dá voltas e voltas, puxando outros consigo, pouco se importando com quem o consulta e deseja, muitas vezes, que mude a direcção; ou simplesmente pare.
Ontem, o conhecimento para mim era algo muito relativo. Sabia as coisas à minha medida, o que nem sequer pode significar que sabia menos que sei hoje. Sabia o que tinha que saber, sem saber o que é saber. Hoje, estou aqui, e recordo esse ontem. E olho para o amanhã, que sendo equidistante está sempre mais perto que o ontem, porque se aproxima impiedoso, sufocante. Não me assusta o que guarda esse amanhã, atemoriza-me apenas a velocidade com que chega. O ontem já lá vai, o hoje só dura um momento, o amanhã está sempre a chegar como as ondas da maré, vindas de um infinito que só não o é porque um dia, que desconhecemos, nos trará o seu termo. Este constante crescimento e mudança são bons, sem o amanhã não podia ter havido o ontem, e talvez este hoje fugaz não fosse tão saboroso, ou saboreado. Mas saber que que cada segundo é queimado e não vivemos todos os milímetros desses quatro cantos, desses doze espaços, é agonizante.

Entrelinhas

É o mais profundo silêncio que esconde a plenitude das palavras, por não as proferir.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

As crianças dão-me esperança

Numa escola primária, a professora pediu aos alunos que escrevessem uma composição acerca daquilo que gostariam de fazer da vida quando fossem grandes. Um rapaz da turma, no seu trabalho, disse apenas: Feliz.

A professora disse que a criança não tinha percebido o que era pedido; a criança disse que a professora não percebia o que era a vida.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Porta 10 - Um dom artístico

Eu queria saber escrever como tu e um amigo meu. tudo o que vocês escrevem toca-me de uma maneira especial, deixa-me sempre mais contente e feliz e sinto-me uma pessoa melhor sempre que leio alguma coisa vossa. gostava de ter um dom assim.

Este é o desejo da Rita, para quem deixo aqui um grande beijinho de obrigado pela parte que me toca! De qualquer modo, todos nós temos o nosso próprio dom, e mesmo que não acreditemos, ele há-de manifestar-se, é mais forte que nós.

Desejo: Porta 6 - Bolo de chocolate!

Este desejo, da Sílvia Correia, foi-me explicado por exclusão de partes. Aqui está a resposta:


Porta 1- Juventude prolongada. Eu acho que todos nós temos o nosso tempo de juventude. Prolongá-lo não irá fazer de nós pessoas mais felizes. Até porque eu não tenho medo da velhice. Temos que apreciar todos os momentos da vida enquanto eles nos são dados.

Porta 2- Dinheiro. Na minha ingenuidade ainda acredito que o dinheiro não compra a felicidade, pode ajudar, não digo que não, mas é dispensável. Um trabalho que gostes e no qual sejas remunerado ainda que pouco dá para viveres e poderes ser feliz.

Porta 3- um par de asas. Posso voar de outras formas. Posso escrever, posso sonhar, posso ouvir música e relembrar-me de momentos ou posso simplesmente ir até ao aeroporto!

Porta 4- Conhecimento absoluto. Para mim era uma chatice! Conhecer tudo e não ter nada mais para descobrir seria a coisa mais aborrecida do mundo! Imagina a tua vida sem o prazer de uma simples descoberta!

Porta 5- Capacidade de saber o futuro, e alterá-lo. Não gosto da ideia de mexer nos tempos. Presente, passado e futuro devem estar cada um no seu modo. Saber o futuro não seria nada bom, é por isso que não vou aquelas médiuns xD Além disso, se pudesse alterar alguma coisa de certo que perderia muitas lições de vida, não podemos ter medo do futuro, até porque se nele errarmos somos mais uma pessoa no mundo que errou.

Porta 6- Bolo de chocolate. ADORO!

Porta 7- A infância. Nunca devemos viver no passado. A minha infância foi fantástica (daquilo que me recordo!) mas o futuro pode trazer coisas melhores.

Porta 8- O amor da minha vida. Era giro poder abrir uma porta e encontrar logo o amor da minha vida. Fiquei tentada. Contudo, perderia aquela fase de procura e descoberta dele e eu acho que vou gostar dessa fase.

Porta 9- Saúde infinita. Não nego que a saúde é imprescindivel, mas ter saúde infinita pode roubar-nos lições de vida. Faz parte da vida adoecer.

Porta 10- Dom artístico. Acredito que já o tenho, apenas ainda não o descobri.

Desejo: Porta 7 - Rever a infância

O presente não me agrada, e o futuro não se avizinha muito melhor. O passado agradava-me, logo quero voltar para lá. Assim podia rever o meu avô e a minha avó... Se pudesse, já lá estava.

Desejo da menina da ciência!

10 desejos

Estás numa sala com dez portas à tua volta, numeradas de 1 a 10. Por detrás de cada uma delas existe um desejo, do qual podes fazer total usofruto, bastando para isso que abras essa porta. Os desejos são:

Porta 1 - Juventude prolongada.
Porta 2 - Uma infinita quantidade de dinheiro.
Porta 3 - Um par de asas, para o teu corpo.
Porta 4 - Conhecimento absoluto.
Porta 5 - Capacidade de saberes o teu futuro, e alterá-lo.
Porta 6 - Um bolo de chocolate!
Porta 7 - A tua infância, para que a possas rever.
Porta 8 - O amor da tua vida.
Porta 9 - Saúde infinita.
Porta 10 - Um dom artístico à tua escolha.

Só podes abrir uma das 10 tentadoras portas. Qual vais abrir? E porquê?

Gostava de saber as vossas respostas; quem o desejar, envie-as para o meu mail ( mendez1_15@hotmail.com ). Todas as respostas serão postadas aqui no blog à medida que as for recebendo... Desde já obrigado!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Não-vida

Passei por ela no pátio da escola e nela fixei os meus olhos, díficil não o fazer, a beleza dos cabelos de ouro batidos pelo Sol ofuscavam qualquer outra coisa que se atrevesse a estar num raio próximo. Amava-a, muito antes de saber por palavras e definições o que significa essa palavra tão utilizada e tão pouco sentida. Nesse momento, por alguma razão, também o olhar dela se dirigiu a mim, por uma infinita fracção de segundo - acredito que ainda hoje lá estamos, suspensos numa qualquer dimensão alheia ao tempo - e ela sorriu, sorriu para mim. Tentei também sorrir, mas acho que a minha cara se desenhou numa careta esquisita, pouco familiarizada com aquele bater frenético do coração. Acho que nesse momento as forças que ele dispendia me impediram de mover as pernas e ir ter com ela. Assim, nunca chegámos a falar. Nem cheguei sequer a saber o seu nome, nem o seu prato favorito. Nunca pude descobrir a sua flor preferida, e nunca lha pude oferecer. Não me sentei com ela num qualquer canto da escola, não lhe dei a mão e me deixei levar na maior viagem que se pode fazer sem que se saia do sítio. Não cresci ao seu lado, não aprendi juntamente com ela o que é um grande amor. Não foi a ela que dei o meu primeiro beijo, aquele que nos tira as forças e nos dá força para fazer tudo. Não a convidei para ir ao cinema ver um filme romântico, ou mesmo um de pancadaria, se ela gostasse!..., também nunca a levei a conhecer a minha família, orgulhoso por ter nascido na geração semelhante a tão enorme tesouro que nenhum antepassado meu pudera descobrir em qualquer mina ou ilha deserta. Nunca a levei ao meu jardim preferido, nem lhe mostrei por paisagens a minha história, aquela que ela já conheceria só de olhar para os meus olhos, porque o amor tem dessas coisas. Nunca tivemos a nossa primeira discussão, nem uma segunda. Quem me dera que as tivéssemos tido... Também não foi com ela que fiz projectos, nem foi com ela que os concretizei; não casámos, não tivémos filhos, nascidos do mais profundo e puro amor alguma vez presenciado pelos deuses. Não os vimos crescer, enquanto envelhecíamos. Não demos passeios junto ao Tejo de mão dada, em silêncio, porque já conhecíamos um do outro mais do que de nós mesmos. Não morremos juntos, por fim, como se a morte pudesse por termo a uma coisa destas, coitada, ela que sonhe. Não é com mágoa que penso nisto, mas sem dúvida com arrependimento; dizem por aí que não nos devemos arrepender do que fazemos, pois bem, a questão crucial é mesmo essa. Arrependo-me do que não fiz. Se o tempo andasse para trás...

domingo, 5 de setembro de 2010

Praeterita mutare non possumus.

Há-de existir um momento, antes de morrermos. Um pequeno momento, uma espécie de horizonte entre o mar da vida cheia e o céu que pintamos de azul mas não sabemos nunca o que guarda; nesse momento, digo eu, o tempo há-de parar. E há-de haver possibilidade de voarmos através dos anos durante os quais andámos, como que vendo a apresentação curta de um longo, longo filme. Havemos de nos poder ver e ficar orgulhosos, bem como nos havemos de poder ver e desejar não o ter feito. Havemos de ver pessoas, lugares, sobretudo episódios. Talvez tenhamos vontade de mudar tudo, talvez de mudar pouco, ou simplesmente viver tudo de novo, numa espécie de nostalgia extrema. Mas, e sou eu o que o digo, a realidade cairá aos nossos pés e perceberemos todos uma coisa; tudo, e nunca terá existido um tudo tãp absoluto quanto este, tudo está dito, tudo está feito. A vida foi vivida, e como um objecto que foi usado até à exaustão, teremos que deixar de o utilizar. Nesse momentos, talvez possamos molhar uma pena numa qualquer tinta e escrever, num qualquer sítio, FIM. E talvez olhemos para o livro que acabámos de criar e fechar com o mesmo amor com que um pai olha para o filho que conhece a madrugada.

sábado, 4 de setembro de 2010

Para onde?

À janela falo e rezo
Não sei se a Deus, se a mim
E da boca etérea vejo sair
Nuvem que logo vai a subir
Rodopia, e desaparece.

Calo-me, espantado.
Ao longe, no horizonte perto
Percebo ainda, já incerto
O seu rasto de algodão
Num céu que é pardo.

Imagino-lhe, mais que a origem,
O destino que tomará
Que paisagens de si verá
Esta nuvem de quem
A minha mente é mãe...

Recomeço a falar, inspirado
E, logo ao lado
Como a outra logo vai
Pisco os olhos e sopra o vento
E vagabunda, ela lá vai.

Percebo então qual é o fado
Daquela minha oral poesia
E o não lamento;
Porque são palavras aquela nuvem
E palavras, leva-as o vento.

Até no ténis

Francesca Schiavone viu o seu triunfo frente a Alona Bondarenko relegado para segundo plano depois de, no segundo set desse encontro, ter efetuado uma pancada por entre as pernas, ao jeito de Roger Federer.

Convidada a explicar o momento de magia, a tenista italiana disse. "Foi instinto, creio. Quando vês que é uma bola e uma jogada propícias para fazê-lo, então tens de aproveitar. É arte, algo que vem de dentro", contou.

Não resisti em colocar isto aqui. Fica provado que arte nasce de onde e quando menos se espera, e é essa suspresa que faz dela o que é. A bola e a jogada propícias, não são menos que o raio de sol ou a mulher que inspiram um poema, ou o sonho que antecede uma pintura. É uma questão de saber utilizar o dom que temos para pegar nas pequenas coisas da vida e gerar Arte, o melhor que os seres humanos sempre souberam fazer. Como Francesca diz, temos mesmo de aproveitar.

Sem coroa

Os leões imperam na selva
Os falcões, rasgam o céu.
Mas se eu pudesse, era um ratinho
Que não tendo nada, é tudo seu.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Núcleo

Na substância daquilo que é
Último e ínicio de si conhece
Centro há que é virtude
Lá mora o fogo que o aquece
E é lá que místico adormece
O que acordado ser não pude.

O Tom nunca apanhou o Jerry

Porque o gozo dos sentimentos não está em senti-los. Está em ansiar por eles e pela paixão do seu génesis e nunca, nunca ficar satisfeito.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Uma questão de necessidade

Concedo-te três desejos, em três dias separados. Em cada um deles, aparecer-te-ei quando entender, sendo que, apesar de te lembrares de mim, não te lembrarás do que pediste no dia anterior. Poderás pedir o que entenderes, que o terás.

1ºDia. O homem estava sentado no sofá, a ver televisão. Na tela eram apresentados vários produtos e serviços, e viu ser anunciado precisamente um sofá, daqueles com mil e uma super-características, que prometia conforto, superior até ao de uma cama. Realmente, este é bem desconfortável, pensou. Surgiu-lhe até uma dor de costas repentina, não se sabe se mais do mau sofá ou do brilhante anúncio. De súbito, apareceu o génio, que perguntou então qual seria o primeiro desejo; podem adivinhar, o homem pediu a quantia em dinheiro suficiente para adquirir o sofá. Mal se viu com o dinheiro na mão, correu a comprar a peça de mobília, e dor de costas, já ninguém a sentia.

2ºDia. O nosso já conhecido sujeito estava sentado no jardim, e de quando em vez o seu olhar poisava sobre outros rapazes, bem mais jovens, poucos eram os que não faziam parelha com uma rapariga igualmente jovem e igualmente bonita. A estes rapazes, faltava-lhes aquilo que só o tempo vai oferecendo, falso amigo: cabelo grisalho, rugas generosas, prisão de movimentos, sorriso branco e luminoso. A nossa personagem estava já afastado dessas alturas em que se pensa que se fica assim para sempre, e uma nostalgia sentida assolou-lhe o peito. De imediato, apareceu o génio, sempre oportuno, pedindo cobrança do segundo pedido. Obviamente, o homem pediu que fossem roubados trinta anos à sua aparência, qual operação plástica com pouco plástico, só o das motivações. E voltou o cabelo castanho escuro, longo, a pele esticada, a vontade das maratonas, o sorriso de orelha a orelha, também estas de função melhoradas.

3ºDia. O nosso amigo encontrava-se agora em casa, hora do lanche. Para variar dos pães com chouriço ou cervejas consigo mesmas, resolveu comer algo que devorava na infância: tostas mistas. Porque não? Sentou-se então, mas depois de comer a primeira a garganta pedia-lhe um acompanhamento líquido. No frigorífico, água e as já referidas cervejas não eram um bom par para aquele baile, que depois de uns momentos de ignorância insistia para ser dançado. O génio reapareceu e perguntou pelo derradeiro desejo. Para este, o homem pensou um pouco; não por ser o último, não por ser a melhor oportunidade para pedir fortunas ou juventude de borla, apenas não se conseguia lembrar de uma coisa... Que raio, que era que eu bebia com as minhas tostas em pequeno? Não me consigo lembrar... Batidos de banada! Sim, génio, quero um batido de banana. E um conforto que o sofá novo não lhe deu apoderou-se dele, bem como memórias de infância que o simples apagar de marcas temporais não trouxe. Na verdade, o sofá por lá ficou sem que o entusiasmo da primeira utilização durasse, e as rugas e os cabelos brancos, mais tarde, voltaram mesmo, não aborrecidos com o anterior despedimento. O batido, o batido depressa acabou - bem podia ter bebido outro - mas o que com ele veio acabou por durar para sempre. Porque por vezes coisas grandes que duram para sempre não marcam ninguém, e coisinhas que depressa se esgotam têm um efeito bem mais duradouro. Como batidos de banana.

Lar

Sentei-me e recostei-me no banco de pedra, frio mas estranhamente acolhedor. O dia era cinzento a chuva só ainda não vinha fazer companhia ao vento cortante porque alguém lá por cima não se lembrara ainda de abrir a torneira. Tive então um daqueles momentos em que não se pensa em nada, nem se vê nada, nem se ouve, nem se cheira. Abanei a cabeça quando dei pelo estado de entorpecimento em que caíra e sorri. Olhei em volta. Não havia ninguém, o que não se estranhava. A maior parte das pessoas convida o Sol para passeios, não este tempinho deprimente. Eu cá prefiro esta "depressão", que bem me alegra. As coisas não são isto ou aquilo, as coisas são aquilo que as pessoas fazem delas, somos nós que moldamos tudo, penso. Eu sou feliz neste dia a que muitos chamam triste. Fecho então os olhos, e inspiro, bem fundo. Dentro dos pulmões entra-me o orvalho da manhã, a terra molhada, as castanhas assadas. Entra-me o rio, entra-me a chuva que não tarda se juntará a ele. Entram-me os gritos das gaivotas, entra-me o chiar do eléctrico nos carris. Quando expiro, nada me sai, e sinto cada partícula de pele arrepiar-se, não de frio, mas de uma espécie de comoção ou alegria de quem se sente cheio, não de alguma coisa, simplesmente cheio. E percebo uma coisa. Lar não tem que ser uma casa, não tem sequer que ser um sítio específico. Lar é quando o nós e o que nos rodeia se confundem e harmonizam, quebrando um horizonte de espaço e esquecendo os grãos de areia. Lar é fechar os olhos e assim ver melhor, porque o lar está dentro de nós e nós somos parte sua, um todo completo, uno. Quando abro os olhos, estou deitado na minha cama. Não, não foi um sonho. Acontece só que a minha imaginação é o meu melhor lar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou constuir um castelo.

Só é lembrado quem conquista. Só conquista, quem tem o que conquistar. E só tem o que conquistar quem se levanta e procura desafios. As dificuldades são a melhor maneira de cravar o nosso nome numa pedra bem no alto, lembrada por muitos, suspirada também. Eu quero gravar o meu nome. Quero ser lembrado, quero conquistar. Pessoas hão-de ler o meu nome e não hão-de virar a página, porque se vão lembrar, vão desejar também ser lembradas. Para isso, tenho que fazer algo. Algo difícil, algo que dê trabalho, algo que puxe por mim. Algo, afinal de contas, pelo qual valha a pena eu seu lembrado. Algo que nem toda a gente possa fazer. Porque uma coisa é fazer parte da História, outra é escrever a História com a tinta dos nossos feitos. Pedras no caminho, muitos se desviam, muitos tropeçam, muitos caem. No fim, só constrói castelos quem as enfrenta, conquista e mete no bolso. E quantas mais, melhor.

Balão

Soltou-se o balão encarnado
Da mão que à terra o prendia
E a menina que o voar via
Imaginava qual seria o seu fado.

Veria ares e solos e ventos
Conheceria fadas e duendes
Talvez mistérios que nem tu compreendes
Viveria anos em poucos momentos.

A menina já não via o balão no ar
Mas sentada no banco de jardim
O voo para ela não tinha fim
A mente continuava a voar.

Para ela o balão para sempre durou
Viveria o que ninguém viveu
Para a menina ele nunca morreu
Para ela, nunca rebentou.

Aos leitores

Estes últimos posts têm sido resultado de palavras/ expressões sugeridas por leitores em comentários, a partir das quais elaboro os textos, sendo que continuo à espera de mais sugestões vossas!