quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Desorganização

qwertyuiopasdfghjklçzxcvbnm. Tenho todas as letras no meu teclado, arrumadas conforme um padrão partilhado por milhões de pessoas. E foram estas as letras usadas por Camões, Pessoa, Saramago, por todos e quaisquer escritores de maior reconhecimento. São as mesmas que eu uso, mas que tenho eu de diferente, ou que têm os escritores de menores linhas? Temos as letrinhas arrumadas, os dedos nas mãos, que falta? Desarrumação. É preciso olhar as letras enfiladas e dessarrumá-las, tirá-las no incómodo sítio, juntá-las com os seus outros grandes amores, namorá-las, casá-las num matrimónio verdadeiramente eterno e frutífero. Passar a paixão que vem de dentro até aos dedos e emparelhá-los com as teclas, ensaiar uma dança comovida e co-vivida, dar à luz uma pedra gravada que não será gasta nem pelo mais bravo mar. Porque o texto é uma arma tão forte que bebe daquilo que para tudo o resto é destruição, tornando-se forte e fortalecendo, inspirando, arrebatando. Um grande violinista não poderá tocar sem investir no instrumento, um escritor tem a matéria de graça, basta talento, e saber desarrumar. São mais valiosos os 20 cêntimos que encontramos no chão que o euro que sabemos estar na carteira. Desarruma, e no meio do entulho, encontra o tesouro. As tuas letras não são menos poderosas que as até agora escritas.