segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ad finitum

O fósforo foi aceso e a cabeça, que momentos antes era redonda, pequena, avermelhada, incendiou-se e desapareceu por entre uma pequena chama, azul e laranja. Essa chama, tímida, parecia um representante ridículo para o elemento que, dos quatro da natureza, é talvez o mais destrutivo e simbólico, não descurando os ciclones, tsunamis e terramotos dos irmãos ar, água e ar.
Mas não era.
Observada, a chama, que ia gradualmente aumentando e consumindo o pedaço de madeira que lhe permitia vida, lembrava muito do que ao fogo está associado; queimava, aquecia, iluminava, destruía. E o símbolo do Conhecimento recordava também um sentimento, arrebatador e perigoso, de polos: a paixão. Talvez a amorosa. A chama crescia, sem governo, fazendo esquecer o que por já passara e futurizando-se sem hesitar. O receio que fazia sentir acompanhava-se de uma vontade louca de não a abafar, como se o brilho aos olhos os hipnotizasse, os mantivesse a ela presos. Sem saída. Quanto mais crescia, mais a paixão apaixonava o apaixonado. Era já ela que o guiava, não o contrário. E quanto mais moléculas de ar esta paixão consumia, mas sede delas tinha e maior se tornava. Mas a chama, como boa paixão que era, queimou quem teimava em deixá-la crescer.
E apagou-se.

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