terça-feira, 29 de agosto de 2017

Maresia

Pois não há outro título que dar ao cheiro da terra molhada e não me vem a vontade de Miar nomes novos para dar às coisas. Maresia, é o que eu sei que se chama a um aroma feito do mar e da terra enamorados.
Mas eu não estive no mar. 
Choveu, tão somente, e trovejou, num agosto urbano. A água não tem sal.
Mas tem sabor.
Talvez hoje, só hoje, não tem o mar a cor do céu mas sim o céu as cores do mar.
Talvez seja maresia mesmo, o título e o cheiro.
Os trovões já me soam às ondas que se deitam com as rochas, os relâmpagos são os faróis e até as estrelas que não vejo, sonho-as como barcos negros que se perdem na neblina.
Definitivamente, maresia.
O mar veio à cidade, decerto por ser vaidoso. Sabe que hoje não se pode escrever à sua costa, pois que chove e as folhas molham-se, e veio, veio à cidade pousar para a tinta abrigada de quem queira fazer maresia, perdão, poesia. Traz o cansaço de banhos descontraídos dos que por entre ele se mergulham sem mergulhar nele.
Descansa. Deixa-te ser um pouco por aqui. Abriga com o teu nome o nome que eu posso dar a todos os cheiros de terra molhada e abriga-te na certeza de eu saber sempre que és tu.