quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Gerascofobia

A areia cai, sempre, sempre ao mesmo ritmo, sempre, sem parar. O pêndulo mantém a sua dança frenética, alheio ao que é de si consequência, ignorando os efeitos do seu mestre. O ponteiro dá voltas e voltas, puxando outros consigo, pouco se importando com quem o consulta e deseja, muitas vezes, que mude a direcção; ou simplesmente pare.
Ontem, o conhecimento para mim era algo muito relativo. Sabia as coisas à minha medida, o que nem sequer pode significar que sabia menos que sei hoje. Sabia o que tinha que saber, sem saber o que é saber. Hoje, estou aqui, e recordo esse ontem. E olho para o amanhã, que sendo equidistante está sempre mais perto que o ontem, porque se aproxima impiedoso, sufocante. Não me assusta o que guarda esse amanhã, atemoriza-me apenas a velocidade com que chega. O ontem já lá vai, o hoje só dura um momento, o amanhã está sempre a chegar como as ondas da maré, vindas de um infinito que só não o é porque um dia, que desconhecemos, nos trará o seu termo. Este constante crescimento e mudança são bons, sem o amanhã não podia ter havido o ontem, e talvez este hoje fugaz não fosse tão saboroso, ou saboreado. Mas saber que que cada segundo é queimado e não vivemos todos os milímetros desses quatro cantos, desses doze espaços, é agonizante.

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