Sentindo um aperto no coração, começou por recordar-se como fora ali parar, ao mesmo banco onde 5 anos atrás pedira em casamento a sua mulher.
Tinha Afonso os seus 30 anos quando foi chamado para a Grande Guerra. Partiu, deixando para tras a mulher e a filha, as pessoas que mais amava no mundo (digo no mundo, porque ja seus pais partiram).
Na Guerra, cada tiro era para Afonso uma facada no seu coração: Não conhecia o inimigo. Ou seria amigo? Teria mulher? Teria filhos? Atormentado com a idéia de destruir outras famílias, outros amores, Afonso fugiu.
A única roupa que tinha levava-a no corpo, e os sapatos já estavam gastos. Durante 5 meses comia e bebia daquilo que a natureza lhe oferecia: seguindo sempre perto do rio, bebia da sua água, alimentava se de plantas q encontrava pelo caminho - que já eram escassas; porém, o que mais alimentava Afonso era o Amor. Era pela filha e pela mulher que passava todo aquele sacrifício. Afonso dava tudo, para poder voltar a olhar para elas.
Assim que chegou à sua cidade natal, Afonso sentiu-se renovado. Seguia pelas ruas onde ensinara a filha a andar de bicicleta, passou pela igreja na qual se casou, passou pela casa da parteira que ajudara no nascimento da filha. Olhando através das janelas das casinhas pequeninas, Afonso percebeu que era Natal: as crianças penduravam as meias na lareira e deixavam chocolate quente e bolachas em cima da mesa. Começou a correr, estava quase a chegar a casa, ao seu lar! Ainda ía a tempo de ajudar a embrulhar os últimos presentes.
Afonso subiu a rua dos correios, passou o pinheiro tão seu conhecido, passou pelo banco do jardim, e, de repente, estacou. Viu-a, pela primeira vez, ao fim de tanto tempo. Como estava grande! E bonita, saía à mãe! Entrou em casa, e ela correu para os seus braços. Maria olhou-o nos olhos: “A mãe está muito doente”.
Ao entrar no quarto, beijou a mulher, sabendo ambos que era o beijo da despedida.. “Estava à tua espera para poder partir em paz, cuida da nossa filha, fruto do nosso amor”.
Não suportando a dor, Afonso saíu, deitou-se no banco do jardim, a recordar-se de Natais outrora mais felizes, e adormeceu..
Era ainda noite mas o dia rompia, já cheirava a Sol na rua apesar de ainda reinar a Lua. Afonso estremeceu mal o primeiro raio lhe beijou o rosto. Acordou. Doíam-lhe as costas, afinal de contas um banco de jardim não é exactamente o mesmo que uma cama de dossel. Esfregou os olhos, à procura da realidade. Teria sido tudo um sonho?
Texto de resposta ao passatempo de escrita, por Francisca Guedes
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