domingo, 7 de novembro de 2010

Espelho

Nos tempos da mágica alquimia
Um sábio cientista, dito lunático
Usou-se da sua louca sabedoria
P'ra criar um espelho muito prático.

Não reflectia coisas nem pessoas
Dava só contrários sentimentos
Transformava em más as coisas boas
Mostrava risos a quem lhe desse lamentos.

Usou-o o nosso amigo cientista
Num poema que ele mesmo escreveu
Saiu uma obra nunca antes vista
Eis então o que aconteceu:

Olho à volta e vejo ódio venerado                         Olho à volta e vejo o amor reinante
Choro, desespero, morte, tristeza                           Riso, esperança, vida, alegria!
Choro também eu, envenenado                              Rio também eu, que é cativante
Não me sinto seguro, é tudo incerteza.                   Seguro estou de que é real a fantasia.

O mundo desaba sem futuro                                   O mundo gira e cores liberta
Onde anda o amor, perdido?                                  O amor é Deus, omnipresente
Corro e logo bato num muro                                   Cada canto é enorme porta aberta
Frio, cinzento, infinitamente comprido.                     Para o mar imenso, resplandecente.

Deito-me nu entregue ao gelo                                Grito e elevo os braços ao céu
Onde andas, calor paixão?                                     Aquecido pela no peito emoção
Ninguém ouve o meu apelo                                    Todos ouvem e cantam o canto meu
O tecto é escuro, é escuro o chão.                        Não há paredes, fronteiras, só coração.

3 comentários:

Comentários