segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Teria sido tudo um sonho? I

Era ainda noite mas o dia rompia, já cheirava a Sol na rua apesar de ainda reinar a Lua. Afonso estremeceu mal o primeiro raio lhe beijou o rosto. Acordou. Doíam-lhe as costas, afinal de contas um banco de jardim não é exactamente o mesmo que uma cama de dossel. Esfregou os olhos, à procura da realidade. Teria sido tudo um sonho?
Afonso de pouco se lembrava da noite passada: Será que chegou ali pelo seu próprio pé, ou terá sido trazido pelas cavalgadas aladas e aéreas de Pegassus? Realidade nunca teve tão longe para si e o próprio banco onde se tinha deitado, apesar de desconfortável, parecia de um material diferente. Depois de esfregar os olhos da sua preguiça matinal senta-se lentamente, enquanto esfrega toda a sua cara com ferocidade. Ao direccionar os olhos finalmente em direcção à paisagem que o rodeava ficou estupefacto: Estava rodeado de plantas exóticas, de animais falantes que jogavam e comunicavam entre si, viu todas as cores que já conhecia e viu inclusive cores que não conhecia, viu pessoas, viu fadas, viu unicórnios e grifos. Levantou-se e depois de esfregar mais uma vez os olhos para ver se não era ilusão, finalmente reage, aquilo que sentia era tão eclético, uma mistura de entusiasmo e surpresa, com um toque de alegria e susto. Não sabia bem o que sentir. Decidiu então correr, passou por árvores faladoras que lhe chegavam ao joelho e viu árvores cuja copa era desconhecida, percorreu cumes e montanhas, florestas e bosques numa questão de segundos. Tudo era perfeito. Chegou a uma falésia perto da praia, vazia por sinal. O mar estava calmo, ao menos daquela altitude aparentava estar. Viu o pôr-do-sol, e que bonito era. Não havia algo mais belo. Ali reflectiu em tudo o que tinha visto e pensado, só naquele momento. Sentir a luz de final de dia, assim como o vento calmo, o cheiro a maresia, fez com que o seu espírito atingisse outro nível. Contemplou mais uma vez a praia e, para sua surpresa, nota numa rapariga sentada à beira-mar. Não fazia mínima noção de como lá tinha aparecido mas há coisas que é melhor nem questionarmos desde que sejam reais. Desceu a falésia, muito rápido quase como se tivesse saltado directamente. Ao aproximar-se reparou então na beleza afrodisíaca daquela pessoa: cabelo negro como a azeitona, pela branquinha que nem uma nuvem. Eram os únicos naquela praia, logo a praia era deles. Quando chega um pouco mais perto devagarinho, ela finalmente repara na sua presença e sorri também um pouco envergonhada. Ele nunca vira sorriso tão bonito. Ganhou coragem e sentou-se perto dela. Ambos contemplavam o azul do mar, sem fim aparente até esta se encontrar com o azul do céu para uma união infinita. Ele naquele momento sentiu-se o céu, a cada vez que olhava na direcção daquela rapariga mais a via como o mar. Debaixo da sua pele fria, arrefecida pelo vento marítimo, o seu peito ardia e a sua barriga mexia do nervoso. Buscou coragem e nos confins do seu interior lá o encontrou para lhe fazer a pergunta: Como te chamas? Ela olhou-o com os seus olhos cor de amêndoa, que espelhavam a sua alma pura e inocente e responde: Chamo-me...
Os raios de sol atingem a cara de Afonso e este estremece. Sentiu ser levado violentamente por uma corrente imaginária fortíssima. Notou que tudo o que vira era um sonho, e agora tudo à sua volta parecia bem mais comum: o café, o passeio, a estrada e os prédios. Perguntou-se quem seria aquela rapariga misteriosa, era a única coisa do sonho que se lembrava. Afonso não sabia o porque de ter dormido naquele banco mas tinha acordado radiante, com um novo alento: Talvez ela ande por aqui...


Texto de resposta ao passatempo de escrita, por André Santos

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