segunda-feira, 5 de abril de 2010

Descoberta

Eu estava sentado e fazia muito frio, mas eu sentia-o pouco. Também era noite, mas tudo o que me importava era a luz intensa e calorosa da lua, reflectida no mar e em mim. Do meu trono de areia eu via à minha volta pessoas de cabeça baixa que procuravam tesouros. Patetas, não veêm que ele desponta ali bem alto, no céu aberto, e só espera que nele reparem? De todos os tesouros, é o mais precioso, e nem precisa de mapas e pás e grandes lutas de conquista. Triste pelos coitados que não viam a lua mas feliz pelo previlégio que tinha, decidi falar com ela; merecia, afinal era ela que me mantia quente e iluminado na noite fria e escura. Primeiro, disse-lhe que achava engraçado que só ali nos conhecessemos e falássemos, afinal eu estava muito longe de casa e todos os dias a via, mas só falara realmente com ela naquele momento. Às vezes, andamos demasiado à procura de uma coisa, e só quando paramos é que sabemos que está mesmo ao nosso lado... Bem, a lua não me respondeu, claro. É muito tímida, ela. Raramente se mostra por inteiro e de vez em quando até desaparece, e não é convencida e presunçosa como o sol. Mas ouvia-me com muita atenção. Essa timidez também faz com que não goste que a olhem directamente, e então, de vez em quando, lá tinha que poisar o olhar nas estrelas ou no mar ou na areia. Mas também lhe disse que, quando se conhece algo tão bonito, é muito difícil não o olhar, bem pelo contrário, afastar o olhar é que é penoso.
Cada vez fazia mais frio e cada vez eu me sentia mais quente. Inspirado por isto, também falei à lua de mim; e falámos muito, muito. Sobre tudo e sobre nada. No ar, parecia tocar uma silenciosa música de amor... Parecia que me estava a apaixonar pela lua. Esta queda que os humanos têm para o que os transcende é impressionante; e nunca acaba bem. O meu corpo já não sentia a areia e. como se voasse, tentei aproximar-me da lua. Quis agarrá-la, beijá-la, contar-lhe ao ouvido coisas que os Homens não entendem. Mas claro, a o que alma muitas vezes quer o corpo a poucas corresponde, e eu voltei a sentir a areia, e logo depois o frio e a escuridão. Caí, nunca saindo do mesmo sítio. A lua era comprometida, tem um compromisso com a natureza e com todos e nunca poderá ser de alguém. Mas não me cabe a mim tecer avisos deste género; existem quedas e descobertas que magoam mas que precisam de ser feitas, porque de tudo se extrai alguma coisa. Eu nunca mais olharei para a lua da mesma forma; para mim, agora, tem mais brilho e encanto e magia. Como tudo o que não conseguimos alcançar.

5 comentários:

  1. Lua *.*6.4.10

    Lindo! Amei o teu texto, e é um privilégio para mim poder entrar nele. Parece que ficas-te a conhecer-me um pouco pois tudo o que escreves-te é verdade e até é engraçado a maneira como o escreves, faz-me lembrar cada minuto ao teu lado com todos os pormenores. Foi um momento único para mim, nunca me tinha acontecido nada assim e nunca vou esquece-lo. És um rapaz maravilhoso e adoraria ter-te conhecido noutro momento, talvez um momento em que não tivesse com ninguém. Agora só te posso pedir desculpa por te ter magoado não queria nada que isso tivesse acontecido, pois também me senti mal e também porque não merecias. Ficas-te com um lugar muito especial no meu coração, o qual vou recordar sempre <3

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  2. Anónimo6.4.10

    Depois deste texto não tenho muito melhor para dizer. Simplesmente adorei! Escolhes tão bem as palavras...

    Filipa

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  3. Anónimo7.4.10

    Padrada *.*

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Comentários