sexta-feira, 16 de abril de 2010

Inocência?

Começou a chover e a professora chamou do recreio todos os seus alunos, para que voltassem à sala. Ao vê-los entrar, percebeu que faltava um menina. Confiando a turma a uma funcionária, foi procurá-la. A chuva acaía cada vez com mais força, mas não foi díficil encontrá-la: estava sentada no meio duma zona arrelvada, de pernas juntas e a fixar o céu, muito concentrada. "Lúc..." " Shiu professora, não faça barulho!" "Então, mas que se passa? Estás a molhar-te toda, vais te cons..." "Professora, ouça!" A mulher fez silêncio. Tudo o que ouvia eram as grossas gotas frias a bater no chão e nas folhas das árvores. "Ouço o quê, está tudo tão silencioso..." "Não ouve? Ouve-se tão bem, e sabe tão bem!" "Mas o quê Lúcia, o que é que ouves?" "A Natureza, claro. Não ouve? Ela não se cala, fala muito. E eu gosto muito de ouvir. Sabe bem aqui (esfregou o peito) e até parece que quero chorar mas não é por me doer nada, é só porque quero rir muito e não sei porquê não me apetece rir, porque este chorar sabe bem mas não choro porque já tenho a cara molhada das lágrimas da Natureza que também não lhe dói nada porque a Natureza só está sempre contente e gosta que eu também esteja contente porque eu a ouço e a Natureza só quer que nós a ouvimos. Ah, e este cheirinho é mesmo bom..."

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