domingo, 11 de abril de 2010

Medo do escuro

Deixamos de ser crianças quando deixamos de ter medo do escuro e daquilo que pode existir debaixo da cama, o bicho papão. Porque ser criança é isso, é amar o óbvio, é satisfação com o que é, não com o que porque é ou deveria ser ou poderia ser. Quando somos crianças temos medo do escuro porque não sabemos o que ele esconde e claro, temos medo do que não conhecemos. Infelizmente, possuímos uma curiosidade exagerada e cada vez mais cedo deixamos os monstros e os heróis e as princesas e os duendes lá no sítio deles, que são os livros de fantasia. Seria tão bom que continuassem presentes em nós, mais do que personagens de contos que nunca aconteceram. Adoro aquela expressão "No tempo em que os animais falavam..."; é um sonho vivo, acreditar que realmente já aconteceu, e mais, ter fé que pode continuar a ser real. Muitas vezes calamos os nossos desejos infantis exactamente porque queremos ser crescidos. Bah, mas ser crescido é tão aborrecido! A maior parte dos crescidos não vive, só existe. Satisfaz meia dúzia de necessidades imeditas e pronto. As crianças que ainda utilizam a imaginação como modo principal de pensar vivem, quando respiram imaginam que o ar que tomam pode já ter sido cortado por asas de dragões ferozes ou discos voadores de extraterrestres. A vida tem outro sabor, porque não a conhecemos. Por exemplo, o escuro de que falava à bocado; como não sabemos o que esconde, podemos nele imaginar o que quisermos. Se acendem a luz, puff, tudo fica definido e objectivo e perde a piada toda. Por isso é que os sonhos verdadeiros e espontâneos acontecem de olhos fechados. No escuro conforto do nosso sono, podemos pintar o que quisermos. E aí sim, existem fadas e as lendas são mais do que isso. Eu quero ser sempre pequenino, quero acreditar na fantasia. Até porque caso contrário, este mundo é muito cinzento.

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