Era uma vez um esquilo. Como muitos esquilos, enterrava bem fundo as bolotas que encontrava e, como alguns, esquecia-se delas ou do local, provocando, daí a muitos anos, o nascimento de um novo sobreiro. Mas este esquilo, caso contrário não teria porque entrar num conto que o imortalizasse (as coisinhas comuns são assim, já vivem para sempre só por si, e não têm direito a história só por si), plantou algo de diferente...
Estava deitado à sombra de um sobreiro, entregue aos seus pensamentos de animal, sim, porque os têm, olhando para as bolotas penduradas no céu, como se fossem estrelas. Pensava no quão complicado era por vezes apanhá-las, no tesouro que se tornavam exactamente por isso. Tudo o que é raro e díficil de obter ganha valor, mas depende sempre da capacidade de quem o procura. Para nós, humanos, bolotas nunca terão muito valor, porque as apanhamos fácilmente, na loja ao fundo da rua. Para os esquilos, dinheiro e ouro e carros nunca terão valor nenhum, porque não lhes fazem falta alguma, nunca farão. É uma questão de vontades, e de necessidades (não o será tudo?). Por serem tão valiosas, quando as apanhava, ou as comia de imediato, se fosse hora de pequeno-almoço, ou a enterrava, qual pirata com o seu pote de ouro.
Imaginava-se já a mergulhar num mar imenso de bolotas quando os olhos lhe começaram a pesar e, quase sem dar por isso, adormeceu. E teve um sonho. Quando acordou, estava em êxtase. Tinha sonhado com algo maravilhoso, algo que iria ser uma grande revolução na vida dos pequenos esquilos. Antes que se esquecesse, pegou no seu sonho e enterrou-o, bem fundo. E com o indicador da mão direita escreveu lá algo na terra.
Muitos e muitos anos depois, andavam muitos esquilos por ali, alguns a subir a árvores para apanharem o seu alimento, quando algo aconteceu. Algo invísivel e sem sabor e sem cor apareceu e, com força, abanou os altos e imponentes sobreiros, fazendo as bolotas choverem cá para baixo. Os esquilos regozijaram com aquele acontecimento, que daí para a frente aconteceu muito mais vezes. E esta deslocação de ar apagou uma inscrição há muito escrita nas terras daquele bosque, que uniram então o criador à criação, o sonho ao sonhador.
Elemento terra
A ti novo elemento
Que sonhei e nascerá
E chamar-se-á vento.
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