Houve um tempo em que ainda existiam pregadores, homens com o dom da oratória, que falavam com eloquência, paixão e armas importantes como a retórica ou a simbologia, ao jeito d'Aquele sobre quem, enfim, falam. A propósito disto, e retomo já já a narração que ia iniciar, para quem não acredita na figura de Jesus enquanto filho de Deus e não segue os ensinamentos da Bíblia como guias para a sua vida, tenha pelo menos em consideração que também Ele foi um excelente orador (facto histórico) e - confiram com qualquer bom professor de português - a Bíblia é só o livro (ou conjunto de livros, melhor dizendo) mais rico em figuras de estilo. Adiante. Nesse tempo, também os ouvintes tinham outros ouvidos, ou pelo menos não os tinham cheios de outras coisas, digo bem, coisas. Para além de estarem acordados e não trazerem consigo telemóvel, escutavam e bebiam as palavras desses tais oradores, ávidos de palavras sobre a Palavra. E isto é a minha introdução para uma história que, se não aconteceu de facto, podia perfeitamente ter acontecido, e basta que a imaginem para que ela se torne real.
Um destes pregadores falou assim ao seu povo: Irmãos, tomemos em consideração dois homens, que podiam ser quaisquer de vós, que me escutam, ou eu mesmo, que vos falo. O primeiro deles é um homem da Igreja, assíduo no culto ao Senhor seu Deus e aos santos que com ele coabitam nos Céus. Anuncia junto dos seus a palavra de Jesus com eloquência, sendo prendado nas palavras e forte nos argumentos. Um pescador com resistentes redes, e com elas pesca homens que, na prática, estão já pescados, como vós que me ouvis acreditando já nas maravilhas da vida d'Aquele que morreu por nós. Mais do que isto, este sujeito celebra a Missa com uma regularidade superior àquela que lhe é, à partida, cobrada, sendo ainda assíduo nas rezas diárias. Este é o primeiro homem que vos quero dar a conhecer, irmãos.
O segundo é o contrário deste. Não é baptizado, levando portanto uma existência orfã dos rituais próprios do comum cristão. Não vai à Missa, não procura anunciadores da Boa Nova, não reza. E é este o segundo indivíduo.
Dizei-me agora irmãos, quem dos dois está mais próximo de alcançar a vida eterna, por via do amor incondicional de Cristo? E respondo por vós, sem dúvidas, o primeiro. Fosse a fé cristã uma balança e a dele estaria provavelmente a rojar a areia que vós piseis. Certo? Errado.
Estais surpreendidos? Também o jovem rico o ficou perante Jesus de Nazaré, depois de ter recusado dar todos os seus bens, logo após ter enunciado de cor os mandamentos de Moisés. Palavras e obras irmãos, sabeis bem qual a diferença, mas pouco sabeis do valor real de cada uma. O primeiro sujeito declamava palavras bonitas, e cumpria com preceito os ritos da Doutrina. Mas conto-vos agora, e não o fiz propositadamente à pouco, que disto ele não passa. Na sua vida em nada faz valer as ideias que anuncia, criando fardos pesados que nunca tencionou carregar, entregando-os a outros e reprimindo-os se não cumprirem as leis que profetiza. Constrói uma enorme mansão, mas fá-lo sobre a areia.
Do segundo sujeito nada tenho a revelar senão aquilo que já vos expus. Porque será salvo, irmãos, aquele que for sensato e edifique a sua casa sobre a rocha firme, a Palavra de Deus, com tijolos de acções, cimento de atitudes e alicerces de obras, e souber fazer tudo isto em segredo. Soubera eu que este segundo homem era praticante de grandes obras, e já estaria ele a fugir das intenções de Jesus. Porque se a nossa recompensa não será dada pelos homens, então não nos preocupemos em mostrar a nossa grande e admirável fé, como o primeiro que vos apresentei. E se amarmos o próximo como Jesus nos amou, não precisamos sequer de referir o seu nome, pois já estaremos a evidenciar a sua vida.
Não posso, nem quero, deixar de comentar o texto desta semana. Dizes que por estes nossos tempos não existem pregadores?! Parece-me a mim, que tu, não andarás muito longe, de o ser. Não te esqueças nunca e também, das acções!...
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