Em tempos idos, um homem acabado de assim se tornar procurava emprego. Procurou um senhor que sabia ser bom empregador, dono de vastos terrenos, sendo que a paga não era feita em dinheiro; ao trabalhador estariam garantidos os bens de primeira necessidade, a saber comida, roupa, tecto e cuidados de saúde. Por outras palavras, ao trabalhar para aquele patrão o homem não receberia qualquer compensação financeira, mas, vista rápida pelo assunto, não necessitaria de tal, pois nada mais seria necessário comprar. No entanto, este nosso amigo, cauteloso, quis saber segunda proposta, de um outro senhor também ele possuidor de uma herdade e igualmente conhecido por ser bom patrono. Este, ao contrário do primeiro, oferecia a totalidade do ordenado em dinheiro, quantidade que seria suficiente para cobrir as necessidades acima descriminadas, mas não mais.
Postas as duas ofertas, o homem resolveu que o melhor para si e para o seu futuro seria aceitar as duas, pois viria satisfeitas as suas necessidades primordiais e teria ainda o dinheiro para o que lhe aprouvesse. Quanto ao tempo, ele lá se arranjaria, poderia dormir menos e fazer numa hora o trabalho que normalmente levaria três. Os campos de ambos os patrões ficavam relativamente próximos, pelo que impossível, não seria. Mas foi. O tempo, sempre ele, mostrou mais uma vez que não estica e o nosso homem rapidamente percebeu que não podia servir a dois senhores, era inexequível. Aliás, ambos os patrões, conhecedores da sua situação, já lhe haviam feito saber as suas considerações; o senhor do dinheiro mostrara-lhe que com o seu salário poderia fazer o que quisesse, mesmo que menos comesse ou mais frio passasse. Podia comprar coisas, e isso é algo de fenomenal, disse ele. Assim, todo o tempo e dedicação do trabalhador deveriam ser despendidos para a sua lavoura, e não para a propriedade do vizinho. O primeiro patrono, todavia, falara-lhe de maneira diferente; Filho, começou, " vejo que serves a mais que um homem, não por necessidade mas por sobeja. Como notas, e sei que notas, Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podes servir-me a mim e a esse outro patrão, nem precisas, se me permites que o diga. Dou-te tudo o que necessitas, trabalhando para mim não tens que te preocupar com o dia de amanhã. Vives cada dia e só com o presente terás que estar em cuidado, pois o amanhã asseguro-to eu. Agora, se servires a quem te dá dinheiro, terás que planear e problematizar, e mais tarde ou mais cedo cairás na tentação do supérfluo, e amanhã não terás que comer, ou tecto onde passar a noite. Olha para os animais e para as plantas da minha herdade, a todos estimo como a mim mesmo e todos podem respirar sabendo que o próximo fôlego lhes está assegurado. Comigo não terás jóias nem vestes caras nem banquetes maiores que a barriga, mas se te curvares perante o peso do ouro, então faltar-te-ão os dedos e os membros e o estômago. Confia em mim, e a confiança será a rocha onde edificarás a tua casa.
concordo com o gil
ResponderEliminarGosto muito dessa passagem :)
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