Era uma vez quatro jovens, três rapazes e uma rapariga. É importante saber que cada um entra nesta história a seu tempo, nunca em simultâneo, ainda que os gestos de um influenciem o próximo. O primeiro que importa vestia-se de castanhos e escondia-se em espinhos, uma máscara feia que disfarçava um interior mais doce. Na verdade, este jovem estava apaixonado pela rapariga já mencionada, mas mal a vira; afinal, como eu disse, cada um entra a seu tempo, e quando tentava chegar-se a ela, ela fugia. Este seco e cinzento rapaz, destruído pela sina que lhe calhara em mãos, nas noites de maior saudade (saudade do que nunca se teve? seja.) gritava e chorava a paixão que nunca acalmava.
Entre agora o seguinte jovem. Este, ouvia de longe os lamentos do primeiro. E chorava com mais força ainda, afinal as dores dos outros por vezes magoam mais que as nossas próprias. Na verdade, ao longe, ele via a amada fugidia, e percebia a razão de tal louca atracção. Testemunha e cúmplice deste amor não correspondido, vestia-se de cinzento e era frio, pois não pode ser quente aquilo que não consegue aquecer.
Fale-se agora da donzela fatal. Ignorante da trágica existência do seu pretendente, apenas sabia em rasgos do choro do segundo jovem, mas não ligava; vestia-se das cores mais alegres, vestidos cor de canto de andorinha e perfume do mel silvestre. Do fundo do seu olhar vinha o aroma da terra molhada, e estes olhos pousava-os no terceiro rapaz, quarta personagem deste conto. Amava-o pela sua majestosidade, achava-o rei de um reino repleto de ouro e quentes paixões. Mais bonita se punha quanto mais atrás chorassem, e o seu apaixonado o mesmo fazia, mas não por amor.
Na verdade, este terceiro rapaz gabava-se dos calores que lhe eram trazidos pela bela rapariga. Brilhava forte, quente, mas não gostava dela. Assim, acabava por incendiar as suas pretensões. e as cores alegres e o perfume de mel silvestre eram substituídos pelo seco e queimado. E de novo aparece o primeiro triste rapaz, também ele afectado pela superior impetuosidade do menino dos olhos da menina. Quem lhe dera ser ele, sem ser como ele.
Um dia, o primeiro rapaz, o Outono, resolveu ignorar a chamada a esta história eterna e fugir a ir ter com a Primavera, a sua amada. Ela acabou por entender quem de facto o amava, e deixou de dirigir o perfume da sua aura para o Verão, que brilhou menos intenso, carrancudo, amuado. E o Inverno chorará mais tarde, mas de alegria, pois o amor venceu. A fuga do Outono fê-lo atrasar-se, mas hoje, finalmente, bateu à porta. Já fez frio e nevoeiro, mas há algo de mágico nesta neblina; algo de primaveril. O Verão brilhou até ontem, mas só porque cá estava só e mais não sabe fazer. Queima, e nunca ama. E mesmo que a Primavera nunca mais possa receber o Outono nos braços, porque a Lei do Mundo a isso obriga, para sempre se saiba que as flores e os animais com que se veste não mais são para agradar ao Verão, mas sim porque, a partir deste ano e para sempre, está profunda, perdida e assolapadamente apaixonada pelo Outono.
Já estava achar estranho que essa cabecinha não magicasse alguma coisa sobre este tempo estranho. De certo a melhor explicação, quais anticiclones e baixas pressões! Se um dia este tempo se repetir e eu tiver que explicar aos pequenos o porque do tempo andar trocado, é esta a história que vou contar.
ResponderEliminarPassarinho
Leva-me masé ao Jardim da Estrela. Outra vez.
ResponderEliminarQue giro! Gostei... Gostei muito da frase "saudade do que nunca se teve? seja." Beijinho, continua a escrever, continua a sentir
ResponderEliminarcaíram-lhe as folhas quando a ouviu cantar ao longe. (fizeste-me gostar um bocadinho do Outono)
ResponderEliminarestá perfeito! adoro vir aqui e sonhar e imaginar ... é uma coisa que ao transmitires consegues fazer
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