terça-feira, 11 de outubro de 2011

Porquê lá?


Conta-se a história de singular rapaz
Perdido numa ilha de onde só mirava água
Um oceano de lágrimas, choro, mágoa
Coisas daquelas que a vida faz.

Noite e dia corria parado
Ciente da necessidade de criar fuga
Mas não era fácil tal trabalho
"Faço, erro
Faço, refaço
Faço de novo
De novo falho."

Não queria da ilha morada eterna
E no desespero que o consumia
Gritou, buscando plateia
Fosse um homem ou sereia
Mas ninguém
Nem pedra ou animal
O ouvia.

Eis que surge de nenhuma lâmpada
Um génio sem desejos para ofrendar
Nem três
Nem dois
Nem um
É mesmo isto que aqui lês
O que lhe ofereceu verás depois
Mas desejo, nenhum.

"Onde queres ir, náufrago?
Para onde a tua embarcação?"

"Aportei do seio materno
O meu caminho é ja eterno
E barcos são etérea visão."

"Mas que buscas?
Que pretendes?
Só recebe quem o sabe pedir
Ou por sorte mera o venham acudir
Mas olho à volta e não vejo deuses
Nem mãos estendidas
Portanto, se as tuas maleitas são compridas
Fala,
E veremos."

"Quero mais, quero nova terra.
Quero paz mais que a ausência de guerra
Quero sair.
Aqui não tenho nada
Nem cama nem roupa lavada
E mal o frio começa a ganir
Sinto a mais ínfima molécula 
Congelada."

"Queres ser feliz?"

"Quero viver."

"Apura então o nariz,
E começa a ver.
O mar banha-te, gratuito
As frutas nascem das árvores
Saborosas.

O Sol é também muito
E as chamas, no gelo
Serão doces prosas
E tens paisagens airosas
De arrepiar o pelo.

Tens mais do que a vista alcança
Tens cores
Sensações
Sossego.
As borboletas e a sua eterna dança
Sombras que a paterna nuvem lança
Dádivas, elas, aos milhões.

Que queres mais, rapaz?
Dinheiro?
Casas?
Materiais?
Eles corrompem a alma por inteiro
Terás amores de plástico
Insípidos
Artificiais.

Ama o que tens
E até podes desejar mais
Ter sonhos ambiciosos.
Mas sejam eles sinceros
Preciosos.
E tudo terás
Em segundos meros.

Não queiras sair da ilha
O continente tem do ódio directrizes
Há tantas
Tantas coisas à tua volta
Prontas para nos fazerem felizes..."

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