Que vai chegando o comboio que é devido
Já não é o tempo restante comprido
Por isso as vossas bagagens enchei e carregai.
Malas enormes, outras muito pequenas
Abertas, nem que pouco, todas elas
Carregadas devagar, como chama de velas
Tardes de chuva ou manhãs amenas.
Caladas as bocas do que é fala
Os olhos, esses, nenhuns se calavam
No silêncio do que sentiam falavam
Consoante o que (não) traziam na mala.
Olhei a minha, já esperante
Da carruagem que por mim chegaria
E nela vi o que nela trazia
Cada objecto um relógio falante.
Pessoas, sonhos, e tesouros.
Que valiam como ponteiros no espaço
Cada um beijo, cada um abraço
Aos seus olhos azuis, e cabelos louros.
Ah, tempo perdido, e mesmo o ganho já saudade
O que tenho e de que posso fazer uso?
O tempo que mas deu, é agora intruso
Leva-me daqui, para longe da realidade.
Atenção senhores passageiros, andai
Que vai chegando o comboio que é devido
Já não é o tempo restante comprido
Por isso as vossas bagagens enchei e carregai.
A vida rica vira pobre, é assim norma
Chega o comboio, e leva-me a bagagem
Eu fico, tanto real quanto miragem
Na indefinida e desconhecida plataforma.
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