sexta-feira, 30 de julho de 2010

Por inteiro

Um rapaz e uma rapariga cruzam-se na praia, desconhecidos, trocam olhares, sorriem, não param, continuam a andar. Não ficam com o desejo de se voltar a ver, é certo, mas eu, eu vejo outra coisa, que me angustia. Nunca mais se voltarão a ver. Duas imensas vidas cheias de imensa imensidão, passada infância e papas e lápis, presente aspecto e fogo e força, futuros filhos e netos e morte. Cruzam-se num aleatório ponto de encontro de espaço e tempo e fim, é só isso, nunca passarão de algo semelhante a figurantes na vida de cada um. Eu não quero isto, incomoda-me. Incomoda-me saber que de tudo só temos migalhas, a nossa vida é na verdade migalhinhas de tudo o que pode ser vivido. Venham-me entendidos defender o carpe diem e o aproveitar o hoje, mas o que é isso, contentar-mo-nos com o que temos? Dizem também que o sonho comanda a vida. Pois bem, eu sonho com tudo. Ver tudo, ouvir tudo, cheirar tudo, saborear tudo, tocar tudo. Sentir, conhecer, saber tudo. Não perceber, que para adulto já me basta a idade e as obrigações. Dessem-me que a garantia que a morte dava-me braços de mil metros e, por Deus!, matava-me agora. Somos tããããão pequenos,e acha-mo-nos tãããão grandes. Pessoa dizia que somos do tamanho dos nossos sonhos... eu não quero ter tamanho, porque medidas e quilos e carnes são só limites, não quero um corpo, a minha alma só quer asas.

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