A planta está ressequida no vaso. Não tem sede, sede tem-se quando se sabe ainda o que é a água, a mágoa, que é falta dela, faz as vezes de afogar. Poderia dizer-se, e será dito agora mesmo, que há sedes que só se sentem depois de beber. Tenho para mim que se alguém, um jardineiro provedor, der um pouco de amor que seja, perdão água, quero dizer água, à planta ressequida, ela tornará a ter sede e ansiar por anos dela até que a secura esteja tão só num futuro passado de beber, e em que nem se pensa. Assim, assim estou certo que não se levantará do vaso e será cada vez menos planta e mais ressequida, até que o tempo lhe leve o nome e deixe somente apostos mortos e pretéritos. As raízes que beijavam a terra, há muito se despediram com ela das razões dos apaixonados ósculos. É possível que recordem juntas alturas em que eram mais pequenas e todavia sabiam poder crescer por onde e como quisessem, todos os lugares estão vagos e nenhuns lugares são vasos. Que afronta esta de fronteirar vida, prometer dar em mão o que de outro modo vem de mão nenhuma, afinal o prometido é de vidro. Fosse de vidro o vaso... mas não é, nem barro, é tijolo e cimento de quarto que se despede jurando voltar de dia, enquanto leva sob o braço os relógios e as janelas.
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