segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Na caverna

Ela está numa caverna escura, fria e húmida. Está perdida, claramente perdida, ainda assim sentada, confortável, tão confortável, tão incomodamente confortável. Mas está perdida. E vêem-se os seus olhos perdidos, olhar para tudo envolto numa brilhante escuridão, que tanto nos mostra sem à vista dar de beber. E ali está ela sentada, parecendo não querer não o estar, mas gritando por uma mão que a levante e que a conduza, mas as mãos passam balouçantes, roçam mas não pegam, muito menos levantam, muito menos conduzem. Ela chora e ri, por não saber o que é chorar, por não saber do que se rir. E quer tanto levantar-se, tanto, mas o frio encolhe-a a si, deixa-a resguardada a um canto de uma caverna sem paredes. Perdida, num nada que por vezes parece ter tantas cores, fica-se pelas desmotivações que a empurram ao sentar confortável, sem uma âncora forte que sim!, a levante!, e conduza, só com imagens efémeras que mostram água à boca sem a saciar, desesperada. E acontece uma morte antes da Morte, a morte de se estar vivo. E estar perdido.

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