domingo, 20 de maio de 2012
As aparências iludem
Entrei e lá estava ele. Arrogante, altivo, com um olhar de desdém que me empurrava para uma linha abaixo, muito abaixo, da dele, ainda que a sua vista encarasse a minha de frente. Grande parte dessa atitude devia-se ao facto de vestir a mesma roupa que eu, a roupa que deveria mostrar a sua pretensa superioridade, mas bolas, nem os sapatos. Desviei o olhar e ele fez o mesmo, como se o magnetismo invertido nos empurrasse para outras paisagens mas não para outros pensamentos; quem era ele para me olhar assim? Quem lhe dera a ele ser como eu, beijar-me os pés que pisar o chão que eu piso com os pés que certamente caminharam mais que os dele. Horrível este exercício de julgamento sem provas nem advogados e com um juiz apenas, o da circunstância. Odiei-o pelo facto de me mostrar ódio e asco. Olhei-o de novo. A chama raivosa bailava-lhe na íris, ah, que fúria a minha, mas quem é este ser que arranca a predisposição de amar da essência humana para me querer mal só por querer ser maior que eu. Não me contive, cuspi-lhe na cara. Sujei o espelho.
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