A casa estava cheia, mais que o habitual. Cheia de luzes, cheia de enfeites, cheia de bonecos de neve e Pais Natal. E cheia de pessoas. Estaria mesmo cheia, ou vazia como mais não podia estar? A pequena Leonor, sem o saber, achava que sim. Ela gostava muito de toda aquela alegria, mas algo não estava bem; primeiro, não percebia o motivo de todo aquele aparato. Sabia que era noite de Natal, sabia que se trocavam prendas e se comia a Ceia, mas não sabia porquê. Tudo tem uma razão de ser, mas ela ainda não tinha descoberto qual era.
Nesse ano em particular estavam lá em casa uma segunda família que segundo ela percebeu eram amigos de trabalho do pai. E isso mudou muita coisa também, o que contribuiu para aquela sensação de estranheza que Leonor sentia. Estava habituada a, no Natal, estar à vontade, só com os pais e o irmão, mas como aqueles senhores eram muito importantes, de nariz empinado, tinha que se portar muito bem e até teve que vestir um vestido muito bonito mas muito pouco cómodo. Às tantas tinha até receio de se rir sem pedir autorização primeiro... Tinha ouvido na escola que o Natal se passava em família, e agora percebia a importância disso.
A dada altura, quis perguntar ao irmão mais velho o que era o Natal. O irmão, que estava mais interessado numa conversa com o filho do casal amigo sobre os jogos e consolas que iam ou não receber, disse-lhe que não sabia, o que aliás não era mentira nenhuma. Depois perguntou à Mãe; também ela estava a trocar receitas e sabe-se lá mais o quê com a outra senhora, e disse-lhe, apressadamente, que o Natal era uma altura do ano em que as pessoas andavam mais felizes porque se preocupavam mais uns com os outros e ofereciam prendas aos amigos. Leonor perguntou à Mãe porque é que então havia pessoas na rua que pareciam muito tristes e cheias de frio, e perguntou-lhe que prendas recebiam elas; a Mãe, já sem paciência, disse-lhe que ela não tinha idade para se preocupar com isso. Por último tentou o Pai, fez-lhe a mesma pergunta, mas este estava a ter uma discussão tão acesa com o colega que nem lhe respondeu, disse-lhe só que depois explicava.
Leonor ficou um pouco triste. Passado algum tempo chegou a meia-noite e com ela a tão esperada abertura de prendas. Relógios caros, consolas, roupa, cd’s e sapatos, tudo se desembrulhou. Leonor recebeu tudo aquilo que pedira, bonecas e roupas bonitas. Pensou que tinha sido muito pateta por ter tido todas aquelas dúvidas. O Natal era aquilo, eram as prendas, e agora estava bem contente. Começou então a brincar com os novos jogos, despreocupada. Começou o Natal sem saber o que ele significava, e acabou a pensar que sabia.
muito bom gostei mesmo :D dá que pensar
ResponderEliminargostei muito ! sofiafurtado
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