sábado, 25 de dezembro de 2010

Feliz Natal

Luzes, doces, música, alegria, amor, muito amor. Não sei que nome dar a isto... mas cheira a Natal!

sábado, 11 de dezembro de 2010

natal

A casa estava cheia, mais que o habitual. Cheia de luzes, cheia de enfeites, cheia de bonecos de neve e Pais Natal. E cheia de pessoas. Estaria mesmo cheia, ou vazia como mais não podia estar? A pequena Leonor, sem o saber, achava que sim. Ela gostava muito de toda aquela alegria, mas algo não estava bem; primeiro, não percebia o motivo de todo aquele aparato. Sabia que era noite de Natal, sabia que se trocavam prendas e se comia a Ceia, mas não sabia porquê. Tudo tem uma razão de ser, mas ela ainda não tinha descoberto qual era.

Nesse ano em particular estavam lá em casa uma segunda família que segundo ela percebeu eram amigos de trabalho do pai. E isso mudou muita coisa também, o que contribuiu para aquela sensação de estranheza que Leonor sentia. Estava habituada a, no Natal, estar à vontade, só com os pais e o irmão, mas como aqueles senhores eram muito importantes, de nariz empinado, tinha que se portar muito bem e até teve que vestir um vestido muito bonito mas muito pouco cómodo. Às tantas tinha até receio de se rir sem pedir autorização primeiro... Tinha ouvido na escola que o Natal se passava em família, e agora percebia a importância disso.

A dada altura, quis perguntar ao irmão mais velho o que era o Natal. O irmão, que estava mais interessado numa conversa com o filho do casal amigo sobre os jogos e consolas que iam ou não receber, disse-lhe que não sabia, o que aliás não era mentira nenhuma. Depois perguntou à Mãe; também ela estava a trocar receitas e sabe-se lá mais o quê com a outra senhora, e disse-lhe, apressadamente, que o Natal era uma altura do ano em que as pessoas andavam mais felizes porque se preocupavam mais uns com os outros e ofereciam prendas aos amigos. Leonor perguntou à Mãe porque é que então havia pessoas na rua que pareciam muito tristes e cheias de frio, e perguntou-lhe que prendas recebiam elas; a Mãe, já sem paciência, disse-lhe que ela não tinha idade para se preocupar com isso. Por último tentou o Pai, fez-lhe a mesma pergunta, mas este estava a ter uma discussão tão acesa com o colega que nem lhe respondeu, disse-lhe só que depois explicava.

Leonor ficou um pouco triste. Passado algum tempo chegou a meia-noite e com ela a tão esperada abertura de prendas. Relógios caros, consolas, roupa, cd’s e sapatos, tudo se desembrulhou. Leonor recebeu tudo aquilo que pedira, bonecas e roupas bonitas. Pensou que tinha sido muito pateta por ter tido todas aquelas dúvidas. O Natal era aquilo, eram as prendas, e agora estava bem contente. Começou então a brincar com os novos jogos, despreocupada. Começou o Natal sem saber o que ele significava, e acabou a pensar que sabia.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Les Miserables - I Dreamed A Dream (TAC)

Crescimento?

Não é a luta que faz de nós grandes, tanto que só lutamos depois de crescermos.

Livro Branco

Um famosíssimo escritor anunciou o lançamento de uma nova obra. Muito antes de se saber o conteúdo ou sequer o título, houve logo uma grande onda de entusiasmo, daquele autor só podia ser coisa boa! Eis que saiu o Livro Branco e todas as suas páginas rimavam precisamente com  título: em branco, mais de cem folhas vazias do que fosse. E o livro do autor famoso trazia uma recomendação, lançada como que um slogan promocional: este livro possui truque para ser lido. Ora, saberia bem o escritor, tão bem quanto eu sei, que o Homem adora o que não conhece e sonha com o que pode descobrir, e logo milhares de pessoas acorreram a comprar aquela misteriosa obra. Cada um experimentou mil e um ensaios; aqueceram o livro, puseram-no dentro do congelador,    
expuseram-no à humidade e ao vento. Olhavam com ânsia para as linhas que teimavam em não surgir, fosse feito o que fosse. Não tardou a que surgissem reclamações. Foi confrontado o autor com recibos do preço da obra, que para eles não devia ser o custo para aquilo que se revelou ser um mísero bloco de notas. E nem tinha sido assim tão caro... O escritor a tudo sorria, com ar de criança divertida. É que o truque que o leitor deveria ter usado para ler aquele livro, era tê-lo preenchido com os próprios dedos.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Abandono

A multidão gritava
Havia movimento por todo o lado .
O prédio ardia
Havia gente que fugia
Choro, enorme, desconsolado.

Nos meus olhos reflectia
Ardente, o fogo intenso
Não devia ele ser quente?
Em mim queimava diferente
Era de um frio cortante imenso.

Fecharam-se, pesados
De tragédia não de sono
Em cinzas sonhos, uma vida
Parece que foi ontem já esquecida
E eu companheiro do abandono.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Desamparo

Crescemos com os braços dela encostados nas nossas costas, bem quentinhos, de repente olhamos para trás e ela não está. Sim, claro que ela nos avisou, mas por muito escuras e densas que sejam as nuvens, se nunca olhámos para elas, quem não se surpreende por começar a chover?

Viver

Sonhei no sono
Que tudo era um sonho.
E enquanto sonhos sonhava
A vontade em mim acabava
Não de viver;
Mas de acordar.

Guerra e Paz

A planície podia até ser bonita, não estivesse recheada de metal e sangue e carne, crateras de explosões, elevados montes sem-vida. O Sol rompia o horizonte e, se iluminar não fosse uma obrigação sua quem sabe encomendada por Deus, provavelmente levaria a sua aurora para outros locais merecedores de serem beijados pelos seus raios.
Aconteceu neste cenário que dois sobreviventes, dos poucos que poderão ter havido e mesmo estes por pouco tempo, que a morte já aí vinha, definhassem perto um do outro. Um deles, falou, e foi esta expressão que chamou à atenção do segundo:
-É isto o Céu?
-Ainda não, e espero que não seja assim... - respondeu o segundo soldado, com a voz a fugir-lhe - De qualquer modo... não creio que seja o Céu a nossa próxima e derradeira paragem.
A estas palavras seguiu-se um momento de silêncio; ambos as digeriam e cada um mais que o outro as sabia verdadeiras, fatais, trágicas. O primeiro olhou em volta, a toda a largura do campo de batalha, e disse:
-Quantas vidas tirei esta noite?
-Quem tentou tirar a minha já veio tarde, que vida é para quem a merece viver.
-Eu não queria vir... eu não queria... eu fui obrigado! - as lágrimas inundaram-lhe os olhos, mas vinham frias, como se para aquele corpo o calor tivesse sido algo de outros tempos, outra vida.
-És meu inimigo ou defendes as minhas cores? - perguntou o segundo homem. De facto, por mais que olhasse a farda do soldado, a sujeira imunda de sangue e terra e fuligem escondia quaisquer pistas do lado da barricada dele.
-Que interessa isso? Matas-me, agora? Olha para nós, cobertos de sangue e suor. Foram só nossos e, ah!, morreria feliz. Mas não, levo para a morte sangue de mortos, mortos por mim, mortos enquanto me tentavam matar... Morte, morte, morte, pensava que os seres humanos nasceram para viver e dar vida...?
-Não, não te vou matar. Faltam-me forças e vontade, bem, essa sempre me faltou. Acho que é uma boa altura para perdoar os pecados do teu país para com a minha nação...
-Que pecados? Hum?
-Então... eu... os pecados... eu... não sei.
-Porque lutávamos, quem defendíamos? Pedaços de papel e ouro, era quem defendíamos.
O pouco sangue que o segundo homem teria ainda no corpo subiu-lhe às faces, rosando-as; sentia-se envergonhado, usado. Olhou para si mesmo, como se esperasse ver sair dos braços cordas gigantes.
-Eu tenho um lar... terei? Foi há pouco tempo que me despedi da minha mulher e da minha filha, mas parece que passaram anos. Parece que sempre vivi aqui, e que essa vida que tive foi um sonho do qual acabei de acordar...
-Não! - o grito do segundo soldado ecoou pela planície sem vida - Não, agarra-te a isso. Se foi um sonho, pois que seja ele o teu redentor. Se acreditas em Deus, dá-lhe a conhecer, quando fechares os olhos, esse teu lado.
-Acreditas em Deus?
-Quero acreditar, se não houver nada para a frente, então que terei deixado eu para trás? Muito pouca vida, e muito mal vivida, e acabada a tirar outras que muito poderiam ainda viver. Quero conhecer Deus, pedir-lhe perdão, perdoar-me a mim próprio. E tu...?
-O meu Deus ficou em casa, junto com a minha família. Ao vir para aqui, ao servir fatos e gravatas que agora bebem sobre os nossos corpos, renunciei ao único Deus que alguma vez servi. E matei-o aos poucos, com cada bala que saiu da minha arma. Ah, sim, acredito em Deus, mas ele há muito que deixou de acreditar em mim.
-Para onde achas que vamos, então? - A pergunta não era de desafio, era da mais pura necessidade de conforto.
-Se não formos para sítio nenhum, estaremos melhor que aqui.
Se houveram mais palavras trocadas, estas foram inaudíveis. Talvez  trocadas pelo olhar, que as bocas perderam forças. Não tardou a que os olhos a ambos pesassem, sucumbindo sob um sono imenso. Adormeceram, e tal como milhares de outros, não mais acordaram.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010