domingo, 26 de fevereiro de 2012
Farewell
Houve uma idade em que eu não usava relógio, uma época em que o tempo era contado por joelhos esfolados, desenhos animados e amores Iô-Iô. E a esse tempo volto de tempos a tempos, graças a mãos dadas que me levam ao tempo sem tempo. Sinto saudades dessas alturas, tanto aquelas de há anos como as que viveram nos meses mais chegados, meses em que abraço a ternura de não se saber aquilo que se vê, nem o que se sente. Só se vê e só se sente. Mas cresço e em vez de mais vida, lá se vai a vida. A luz dos anos sós faz sombra do meu corpo sozinho, que nada partilha com ninguém para além de sonhos que ficaram enterrados algures em locais que visitarei à procura do que perdi e com os quais tenho uma cumplicidade estranha; levei-lhes os sonhos, sonhei neles e depois de os perder, choro aos seus ombros, e eles mais não respondem que uma sonora gargalhada.
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