Ele conta os tempos da noite por goles de uma qualquer garrafa ou copo. Nessas horas, a sede é de trago que mais que a ela mate, cada um um degrau mais subindo a esse tapete que faz voar a mente e o pensamento. Bebe e dança, cambaleante, até tonto cair na pista de algodão e linho. Dorme. Afogado no veneno doce, a carne clama tão somente por água. Talvez se sinta morta e anseie pelo que dá vida. Todavia, ele dorme. E não acorda. Não o move aquela angústia como a fome pela bebida. E nessa dormência os sonhos ainda embriagados dão-lhe torneiras e poços frescos, e ele bebe, bebe, bebe. Cada trago traz aquele mágico momento em que a simples água nos sabe a tudo, como se não houvesse mais nesse mundo que nos pudesse saciar e saber tão bem. Mas o bêbedo, por mais que nos sonhos beba, não fica saciado. Na manhã - que ela o salvasse - o sonho prossegue nesse pesadelo. Ele aceita a dança e dança ao ritmo dos oásis miraginais, sempre marginais à sua roda. Pensa que chegará um dia, mas o dia não chega e dança até que não mais.